Azarito
Anedota: homem no seu leito de morte despede-se da mulher. “Quando tive o AVC, tu nunca saíste de ao pé de mim apesar de eu sempre te ter traído.” Ela responde-lhe emocionada: “sim, meu doce, isso agora não importa nada”. “Quando o negócio ardeu e ficámos sem ganha-pão, também sempre estiveste ao pé de mim.” Ela, ainda mais emocionada: “sim, meu querido.” “Quando ficámos sem casa e sem carro, foste tu a única que não me abandonou.” Ela, já com a voz a tremer: “sim, meu amor”. “Passaram mais de 40 anos e agora estou aqui no meu leito de morte e tu sempre aí, sempre perto.” E ela já não conseguia dizer nada, as lágrimas rolavam-lhe cara abaixo. “Sabes uma coisa?”, pergunta-lhe ele. “Diz, meu querido, meu doce, amor da minha vida.” Ele: “eu acho que tu me dás azar.”
Exercício: no texto acima, substituir “homem no seu leito de morte” por “Portugal despede-se das conquistas de Abril em ano de eleições.” E o que o homem vai dizendo por “vocês sempre me avisaram”, “vocês sempre me representaram”, vocês sempre me defenderam”, “vocês sempre denunciaram os corruptos”, “vocês sempre fizeram o possível e o impossível para preservar o que antes era de todos e agora pertence a uma casta de rendeiros do país”. Mantenham aquele “eu acho que eles nos dão azar”, é o que dá graça à anedota.
Nota: um destes dias conto-vos uma muito boa sobre um povo que, ao contrário de azarados como gregos e espanhóis, teve a sorte de se deixar convencer que não havia nada a fazer e se permitiu achar que aquele arco que deu cabo do seu país o iria reconstruir com a mesma receita de austeridade e obediência, a desmantelar o que restava de serviços públicos, de Segurança Social, de estabilidade laboral, de poder de compra, de qualidade de vida, de esperança, de presente e de futuro. Termina com mais umas eleições ganhas por esse “arco da governabilidade” seguidas de uma alteração à lei eleitoral para varrer de vez do Parlamento aqueles – os tais – lagarto, lagarto, lagarto – que davam azar. Adoro anedotas com finais felizes.
Vagamente relacionado: Ao fim de 32 anos, Francisco Pinto Balsemão vai deixar o restrito clube de Bilderberg e já escolheu o seu sucessor no Steering Committee, o conselho director que organiza os encontros anuais. Será José Manuel Durão Barroso, o ex-presidente da Comissão Europeia e antigo primeiro-ministro português entre 2002 e 2005, que o irá substituir, apurou o PÚBLICO.
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