(Por José Gabriel, in Facebook, 27/05/2017)
Passa hoje o 30º aniversário da vitória do F C Porto na Taça dos Campeões Europeus. As televisões e os meus amigos portistas narram de muitos modos esta efeméride. Reportagens, memórias, festejos, palavras de exaltação clubista e portista. Tudo isto se compreende. Mas, mais uma vez – com excepção das vozes dos jogadores do tempo ouvidos – a figura de Artur Jorge parece esfumar-se. Era interessante percebermos porquê. É que há muito penso que, a dar um exemplo de desportista profissional, escolheria, entre muito poucos, Artur Jorge. Então por que razão este país que tão depressa incensa gente da bola como se fossem exemplos de excelência nacional e vértice da magnificência humana, esquece tal figura? É que os atributos do Artur Jorge estão nos antípodas do perfil que a imprensa e a opinião publicada “desportivas” sacralizam. Quer dizer: as qualidades de um dos maiores jogadores e treinadores da história do desporto português são exactamente o que o desqualifica para ser ídolo nacional-futebolista.
Artur pertenceu à última geração do futebol da Académica antes do cilindro da hiper-profissionalização alterar completamente as condições do desporto, sobretudo do futebol, e transferiu-se para o Benfica perante uma proposta irrecusável. Todavia, apesar do cepticismo dos seus amigos, ia decidido a completar a sua licenciatura em Filologia Germânica. Sei disto porque, involuntariamente, assisti à conversa – não ia deixar ia bife a meio, não é? – entre Artur Jorge e Toni sobre o tema, ao balcão do Tropical; com as dúvidas, as importâncias em causa, as condições oferecidas. Sobre tudo isto guardarei silêncio, como é óbvio, mas compreendo o que o levou a decidir como decidiu.
Artur Jorge fez uma carreira brilhante no Benfica e na Selecção Nacional. Campeão nacional por diversas vezes, elemento destacado do que era, na altura – eu sou insuspeito – uma das melhores equipas do mundo, tudo parecia um caminho para a glória. O que se passou então? Aconteceu que:
– Artur Jorge concluiu mesmo a licenciatura em Germânicas.
– Encerrada a carreira de jogador, foi fazer um curso superior de desporto e especialização em futebol. Num país de Leste – socialista! -, valham-nos os céus!
– Iniciou a sua carreira acumulando bons resultados e sucessos, o que o levou aos grandes. Acumulou títulos no FCPorto. campeonatos nacionais, taças, super-taças e o mais que viesse. Finalmente, foi campeão europeu e mundial com o seu clube; o primeiro português – ouviram mourinhólatras?
– Entretanto, contrariando as expectativas e hábitos do nacional-futebolismo, gastava o seu dinheiro em colecções de arte e – heresia! – publicava poesia.
– Durante a sua vida, desde os anos 60 em Coimbra, nunca se furtou a ter uma posição de cidadania activa e democrática, o que, geralmente, era olhado com desconfiança no mundo da bola.
– Pecado final: sendo perguntado sobre os comentários aos jogos então transmitidos pela televisão, declarou que, para não ouvir disparates, desligava o som e punha música clássica ou jazz. Estava, assim, feita a heresia final e alimentado o ódio da comunicação social.
– A sua carreira de treinador desenvolveu-se em vários países, adicionado ao seu palmarés campeonatos, taças, super-taças em França, na Rússia, na Arábia Saudita.
– O seu êxito trouxe-o ao Benfica, que, com problemas financeiros e uma equipa envelhecida, queria resultados de milhões com investimentos de tostões. Aqui, teve a infelicidade de sofrer uma cirurgia a um tumor cerebral que o afastou do trabalho algum tempo. O Benfica ficou em terceiro, mas já tinha ali um bode expiatório, cujo nome arrastou pela imprensa como culpado de todos os males. Porque lembro isto? Porque ainda ontem ouvi esta referência e ela é recorrente em alguns dos meus amigos benfiquistas nesta rede. Nostálgicos de glória, parecem não perdoar nada.
– Artur Jorge foi, assim, a primeira grande figura nacional com voz de comando no desporto internacional. Só encontramos semelhante em Moniz Pereira, no atletismo.
Artur pertenceu à última geração do futebol da Académica antes do cilindro da hiper-profissionalização alterar completamente as condições do desporto, sobretudo do futebol, e transferiu-se para o Benfica perante uma proposta irrecusável. Todavia, apesar do cepticismo dos seus amigos, ia decidido a completar a sua licenciatura em Filologia Germânica. Sei disto porque, involuntariamente, assisti à conversa – não ia deixar ia bife a meio, não é? – entre Artur Jorge e Toni sobre o tema, ao balcão do Tropical; com as dúvidas, as importâncias em causa, as condições oferecidas. Sobre tudo isto guardarei silêncio, como é óbvio, mas compreendo o que o levou a decidir como decidiu.
Artur Jorge fez uma carreira brilhante no Benfica e na Selecção Nacional. Campeão nacional por diversas vezes, elemento destacado do que era, na altura – eu sou insuspeito – uma das melhores equipas do mundo, tudo parecia um caminho para a glória. O que se passou então? Aconteceu que:
– Artur Jorge concluiu mesmo a licenciatura em Germânicas.
– Encerrada a carreira de jogador, foi fazer um curso superior de desporto e especialização em futebol. Num país de Leste – socialista! -, valham-nos os céus!
– Iniciou a sua carreira acumulando bons resultados e sucessos, o que o levou aos grandes. Acumulou títulos no FCPorto. campeonatos nacionais, taças, super-taças e o mais que viesse. Finalmente, foi campeão europeu e mundial com o seu clube; o primeiro português – ouviram mourinhólatras?
– Entretanto, contrariando as expectativas e hábitos do nacional-futebolismo, gastava o seu dinheiro em colecções de arte e – heresia! – publicava poesia.
– Durante a sua vida, desde os anos 60 em Coimbra, nunca se furtou a ter uma posição de cidadania activa e democrática, o que, geralmente, era olhado com desconfiança no mundo da bola.
– Pecado final: sendo perguntado sobre os comentários aos jogos então transmitidos pela televisão, declarou que, para não ouvir disparates, desligava o som e punha música clássica ou jazz. Estava, assim, feita a heresia final e alimentado o ódio da comunicação social.
– A sua carreira de treinador desenvolveu-se em vários países, adicionado ao seu palmarés campeonatos, taças, super-taças em França, na Rússia, na Arábia Saudita.
– O seu êxito trouxe-o ao Benfica, que, com problemas financeiros e uma equipa envelhecida, queria resultados de milhões com investimentos de tostões. Aqui, teve a infelicidade de sofrer uma cirurgia a um tumor cerebral que o afastou do trabalho algum tempo. O Benfica ficou em terceiro, mas já tinha ali um bode expiatório, cujo nome arrastou pela imprensa como culpado de todos os males. Porque lembro isto? Porque ainda ontem ouvi esta referência e ela é recorrente em alguns dos meus amigos benfiquistas nesta rede. Nostálgicos de glória, parecem não perdoar nada.
– Artur Jorge foi, assim, a primeira grande figura nacional com voz de comando no desporto internacional. Só encontramos semelhante em Moniz Pereira, no atletismo.
Artur Jorge: um homem culto, um cidadão democrata empenhado, um esteta, um artista, um enorme profissional, um desportista exemplar como poucos, é apagado da memória comum e, até, hostilizado. Porquê? Exactamente por estas razões.
Repito: este texto fala de futebol mas não é sobre futebol.
estatuadesal.com
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