Em Maio, arranca a temporada de uma tradição galega, que remonta à época pré-romana. O objectivo é capturar, desparasitar e marcar os cavalos selvagens da região, próxima da fronteira com Portugal.
Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.
Há vários séculos - a data exacta perdeu-se no tempo - duas irmãs prometeram a São Lourenço (patrono da sua paróquia) duas éguas, como oferenda de salvação, perante a peste que assolava a região. Durante a praga, as jovens refugiaram-se numa cabana junto da igreja e, ao não ficarem doentes, cumpriram a promessa e entregaram as éguas ao pároco local. O religioso deixou os animais livres na floresta e, com o tempo, acabaram por se reproduzir e espalhar-se pelas montanhas próximas...
Hoje em dia, na mesma região, há uma tradição que tem raízes nesta história e que continua a levar-se a cabo. A "rapa" - captura em galego - consiste em encaminhar para a povoação, controlar, desparasitar e marcar com microchips algumas manadas de cavalos selvagens, teoricamente descendentes das éguas da lenda e realiza-se num recinto denominado "curral", onde se juntam os animais.
A tradição oral pode basear-se em qualquer uma das pestes do século XVI, mas acredita-se que, na verdade, remonta ao período pré-romano, devido aos petróglifos encontrados na região e que representam homens a cavalo. Actualmente, repete-se anualmente em várias zonas da Galiza. Durante o trabalho com os animais, os trabalhos de desparasitação revestem-se de particular importância, já que melhoram as condições de saúde das manadas.
O concelho de A Estrada, Pontevedra [a pouco mais de 130 quilómetros de Caminha, Portugal] é uma das zonas em que as "rapas" são mais populares. Ali, estão identificadas 13 manadas que vivem livres nas montanhas e os locais garantem mesmo que há ainda outra, extremamente selvagem, que há mais de 20 anos não desce das áreas montanhosas.
Os homens e mulheres que em cada aldeia estão encarregados de dominar os cavalos durante a "rapa" são conhecidos como "aloitadores". Sabucedo é a localidade onde se realiza a "rapa" mais famosa e, além disso, diz-se que é a única em que só se utiliza o corpo e a habilidade dos "aloitadores" para dominar os animais.
O seu actual curral foi construído em 1996 e renovado em 2012, tendo hoje uma capacidade para mil e 500 espectadores, como se fosse um pequeno estádio. Algo impressionante para uma aldeia onde durante todo oa ano apenas vivem cerca de 60 pessoas. Antigamente, esta tarefa era levada a cabo entre cercas construídas com pedras, junto às igrejas.
As "rapas" arrancam em Maio e prolongam-se até Agosto. Estas fotos dizem respeito à "rapa" realizada e, Saucedo no ano passado.
Segue o autor no Twitter @FotografiAdrian
Vê também: "As alucinantes e perigosas corridas de cavalos na Guatemala"
www.vice.com
Sem comentários:
Enviar um comentário