Neste ponto, e neste ponto apenas, concordo com Gideon Rachman do Financial Times: há algo de arrepiante, tendo em conta a história do século XX, em ver “a líder alemã numa tenda de cerveja na Baviera a anunciar a separação em relação aos EUA e à Grã-Bretanha, fazendo referência no mesmo discurso à Rússia.”
Ironia à parte, os que contam com a versão europeia do liberalismo do medo, agora em relação a Trump, para continuar a federar furtivamente a Europa, estão apenas a reforçar os desígnios do imperialismo alemão, transpondo-os do campo económico-político, indissociável do Euro, para o campo político-militar. Não há como dar combate sem quartel a tal irresponsabilidade, ainda para mais quando vem de gente que se diz de esquerda.
Seja como for, continuo a apostar que estamos perante passageiras e superficiais querelas, procurando Merkel no seu discurso de campanha aproveitar-se da justa impopularidade de Trump para conquistar eleitores, secundarizando ainda mais a de qualquer forma irrelevante social-democracia alemã: no final, a Alemanha continuará integrada no bloco imperialista transatlântico liderado pelos EUA, provavelmente mais armada. Esse é na realidade o negócio de Trump. Aposto que vai ser aceite.
A integração europeia é indissociável deste bloco criado para combater todos os socialismos, aspecto em que também tem sido muito útil no continente, o que nunca é de mais sublinhar. E o mundo continuará tão perigoso quanto antes, até pelos estatocídios que este bloco já tem no seu cadastro na ausência de freios e contrapesos relevantes. Sem os colocar obviamente no mesmo plano, tendo o Mediterrâneo por uma das suas fronteiras, os esvaziamentos das soberanias passaram por intervenção militar, a sul, e financeira/monetária, mais a norte, no que acabou por funcionar como uma espécie de divisão de tarefas entre a potência europeia e a norte-americana e que foi da Líbia à Grécia.
No fim de contas, confirma-se que os que não querem falar de imperialismo, como a política internacional do capital financeiro, também não podem falar com propriedade das suas articuladas estruturas de integração, da NATO à UE.
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