Passos Coelho deixa aviso: quem mentir sai
Envolvimento de Relvas no caso do espião incomoda Governo. PM segura ministro:
"no contexto suscitado" não vê problema
Passos Coelho reafirmou a confiança política no ministro-adjunto, mas foi criterioso nas palavras.
Confrontado com as notícias de que Miguel Relvas recebeu de Silva Carvalho, ex-chefe do SIED,
um plano de reforma das secretas, o primeiro-ministro disse essencialmente duas coisas:
que já falou "várias vezes" com o ministro sobre o assunto em causa,
e que "no contexto em que o caso foi suscitado na imprensa" não vê "nenhum problema".
O temor, nas altas esferas do Governo, é que o contexto se alargue e que o caso
das secretas ainda tenha mais lenha política para arder.
O mal-estar que o ressuscitar do caso provocou em S. Bento foi indisfarçável.
O primeiro-ministro quis saber que informações foram,
afinal, enviadas por Silva Carvalho a membros do Governo. E não escondeu a irritação pelo facto de, em janeiro, quando o "Público"
noticiou os contactos entre o espião entretanto contratado pela Ongoing e Miguel Relvas, isso ter sido desmentido
e agora voltar a aparecer nas páginas dos jornais.
Passos tem uma frase que já repetiu várias vezes no seu inner circle: "Se um membro do Governo mentir, deixa de ser governante".
E, esta semana, a máxima do primeiro-ministro foi relembrada ao Expresso a propósito do novo abalo que o tema secretas/
poder político veio provocar no Governo.
O facto de Miguel Relvas ser a trave-mestra da coordenação política do Governo rodeia este caso de uma importância política suplementar.
Ter o ministro-adjunto envolvido em notícias sobre processos judiciais que não se sabe quando nem como vão terminar é algo
que pode desgastar a imagem do próprio Governo.
Sobretudo porque um ministro-adjunto obrigado a justificar--se publicamente
ou a estar mais concentrado em questões laterais à agenda central do Executivo é algo que,
além de fragilizar o próprio, pesa mais num Governo pequeno como o que Passos escolheu ter.
"É como não ter pneu sobresselente", afirma um dirigente da maioria.
A preocupação nas hostes é indisfarçável, nomeadamente no CDS,
onde há quem recorde a frase que Paulo Portas gostava de dizer na campanha:
que não o motivava um governo de Relvas e Marcos Antónios.
Marco António Costa é, com Miguel Relvas, o segundo nome do Governo escolhido
por Silva Carvalho para destinatários das suas tentativas de incursão nas altas esferas poder.
E embora ambos neguem em absoluto ter dado
qualquer seguimento a qualquer diligência do espião, o simples facto de os seus nomes
surgirem na lista dos contactos do ex-homem-forte do SIED
é tudo o que o primeiro-ministro menos queria ter de gerir nesta altura.
"O PM nunca gostou de Silva Carvalho", afirma um dos seus mais próximos colaboradores.
Convicto, no entanto, de que o primeiro-ministro não irá,
mais uma vez, precipitar nenhuma revolução nos serviços secretos.
Júlio Pereira aguenta-se
Passos mantém a confiança em Júlio Pereira e não deverá mudar
tão depressa o secretário-geral do SIRP (Serviços de Informação da República Portuguesa).
Ao que o Expresso apurou, o primeiro-ministro
entende que Júlio Pereira fez o que tinha a fazer, ou seja, propôs a exoneração do agente das secretas que o
Ministério Público diz ter continuado a dar informações dos serviços a Silva Carvalho, já depois deste estar na Ongoing.
Tendo o 2º agente envolvido no caso tomado a iniciativa de sair.
Para já, o PSD prepara-se para apresentar no Parlamento projetos de lei
que reforcem o segredo de Estado e a fiscalização das secretas, tema que será sempre para consensualizar com o PS.
Antes de mexer nisto e na estrutura dos próprios serviços secretos,
o PM preferirá, para já, não fazer rolar mais cabeças. |
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