O "Fim da História"
ou
A Ideologia Imperialista da “Nova Ordem Mundial”
Luiz Marcos Gomes
A grande maré capitalista que tomou conta do mundo, particularmente após a derrocada dos regimes estabelecidos nos países do Leste europeu e na extinta União Soviética, não significou somente a explosão das propostas neoliberais nos terrenos econômico e político. Implicou, também, uma ofensiva sem precedente da ideologia burguesa-imperialista visando à conquista dos corações e mentes em escala mundial. Uma das manifestações mais emblemáticas dessa ofensiva foi, primeiramente, o artigo, aparecido ainda em 1989, com o título "O fim da história" e, posteriormente, em 1992, o livro “O fim da história e o último homem”, ambos do norte-americano Francis Fukuyama1.
O esforço principal de Fukuyama, que tem provocado grande repercussão, foi o de tentar elaborar uma linha de abordagem da história, indo de Platão a Nietzsche e passando por Kant e Hegel, a fim de revigorar a tese de que o capitalismo e a democracia burguesa constituem o coroamento da história da humanidade, ou seja, de que a humanidade teria atingido, no final do século XX, o ponto culminante de sua evolução com o triunfo da democracia liberal ocidental sobre todos os demais sistemas e ideologias concorrentes.
Para ele, este século viu, primeiramente, a destruição do fascismo e, em seguida, do socialismo, que fora o grande adversário do capitalismo e do liberalismo no pós-guerra. O mundo teria assistido ao fim e ao descrédito dessas duas alternativas globais, restando apenas, atualmente, em oposição à proposta capitalista liberal, resíduos de nacionalismos, sem possibilidade de significarem um projeto para a humanidade, e o fundamentalismo islâmico, confinado ao Oriente e a países periféricos. Assim, com a derrocada do socialismo, Fukuyama conclui que a democracia liberal ocidental firmou-se como a solução final do governo humano, significando, nesse sentido, o "fim da história" da humanidade.
Fukuyama não contrapõe a chamada democracia liberal somente ao socialismo, mas também a uma miríade de regimes autoritários de direita que entraram em colapso e que, de acordo com ele, acabaram adotando, em maior ou menor grau, o modelo da democracia liberal. Na América Latina, aponta o caso das ditaduras na Argentina, no Brasil e no Chile. Na Ásia, lembra o fim do regime De Ferdinand Marcos, em 1987, e sua substituição peio governo de Corazón Aquino. Na África do Sul, cita a libertação de Nelson Mandela pelo governo de maioria branca de F.W. de Klerk e a busca de um governo de co-participação de brancos e negros. Tudo, segundo ele, com muitas variantes, mas sempre no rumo de um modelo de democracia liberal. Liberalismo, para Fukuyama, e o regime fundado, no terreno político, na democracia burguesa e, no terreno econômico, "no direito de livre atividade econômica e troca econômica, baseado na propriedade privada e nos mercados".
Em suma, ao longo do século a democracia liberal teria superado os "totalitarismos" de direita e esquerda, e também quaisquer outras variantes autoritárias, e triunfado como o regime mais adequado ao progresso e à liberdade humana. As propostas que restam hoje em contraposição à democracia liberal estão na defensiva, e representariam o conservadorismo e o atraso. Veja-se, por exemplo, diz Fukuyama, a situação dos países que permanecem socialistas, como China, Cuba, Coréia do Norte e Vietnã. Para ele, "embora o poder comunista persista no mundo, deixou já de refletir uma idéia dinâmica e atraente. Hoje, os que se dizem comunistas empenham-se numa luta contínua de retaguarda para preservar alguma coisa da sua posição e do seu poder. Os comunistas encontram-se na posição nada invejável de defender uma ordem social ultrapassada e reacionária, como os monarquistas que conseguiram sobreviver até o século XX".
Passando por cima da realidade histórica mais banal, Fukuyamama desconsidera o fato evidente de que o fascismo somente se explica se ligado intimamente ao capitalismo monopolista e às suas crises, da mesma maneira que o surgimento de um conjunto de regimes ditatoriais e fascistas na América Latina, no decorrer dos anos 70, foi a expressão política da forma de desenvolvimento capitalista ocorrida nesses países. (Ou seja, foram regimes que sufocaram a democracia burguesa, reprimiram os movimentos populares, recorreram à tortura como método normal de ação, tudo para garantir a acumulação capitalista num modelo de desenvolvimento associado ao capital financeiro internacional que, por seu lado, garantiu a esses países o apoio político necessário.) O que seria da ditadura militar brasileira, que operou um dos mais famosos ciclos de expansão capitalista na periferia, entre fins da década de 60 e começo dos anos 70, período conhecido como "milagre brasileiro” sem o incentivo e o suporte dos Estados Unidos (inclusive na preparação e desencadeamento do golpe militar)?
No complexo processo de desenvolvimento capitalista, a concorrência se transforma no seu contrário, o monopólio, da mesma forma que a democracia burguesa se transforma na ditadura fascista, num regime policial de terror, onde o capital monopolista finalmente consegue implementar as mudanças a ferro e a fogo para romper a crise e reiniciar um outro ciclo de expansão. Senão, como explicar os regimes fascistas surgidos na Itália, Alemanha e Japão, após um período histórico de crises vivido por todos esses países? Em seguida, essas potências capitalistas "renovadas" aguçam suas contradições com as "antigas" potências dominadoras do cenário mundial, surgindo, então, os conflitos mundiais como a 2a Grande Guerra, que, de início, não foi mais do que uma guerra imperialista pela repartição do mundo, uma guerra pela disputa de mercados, de colônias, de zonas de influências. Fukuyama parece ter tanto receio e dificuldade de encaixar o nazi-fascismo em sua teoria que tenta apresentá-lo como uma espécie de pesadelo característico de uma época específica, que dificilmente se repetirá.
É uma de suas afirmações mais gratuitas e perigosas, pois é como se quisesse se livrar rapidamente do monstro fascista apenas fazendo uma profissão de fé de que se trata de fenômeno histórico isolado e superado, e não de uma ameaça permanente que pode ressurgir das entranhas de seu liberalismo baseado na propriedade privada e nos mercados. Diz ele sobre a Alemanha nazista: "Inclino-me a aceitar o ponto de vista de que o Holocausto foi tanto um mal único quanto o produto de circunstâncias históricas também únicas, que convergiram na Alemanha nas décadas de 1920 e 30. Essas condições não somente não estão latentes na maioria das sociedades desenvolvidas como também seria difícil (embora não impossível) reproduzi-Ias em outras sociedades no futuro".
No fundo, o que Fukuyama quer nos impingir é a idéia de que a humanidade já estaria livre de fenômenos como o nazi-fascismo, uma vez que esse tipo de barbárie não mais seria condizente com o estágio atingido pela humanidade na pós-história. Sua teoria não é mais que uma completa falácia para um mundo dividido entre exploradores e explorados, entre nações super-ricas e superpobres, no qual a massa dos excluídos dos frutos do progresso e da civilização se conta aos bilhões, ou seja, um mundo em que as bases objetivas para o surgimento de regimes terroristas e de guerras interimperialistas continuam dadas. Além disso, basta olhar, por exemplo, o aumento da onda fascista em países como a Alemanha e a França, que enfrentam situações de crise e de desemprego, e onde crescem as agressões e os atentados contra os migrantes pobres, vistos pelos neofascistas como praga perturbadora ao projeto de uma Europa rica e próspera (evidentemente não para todos que hoje vivem lá, mas somente para alguns "escolhidos" em função de sua nacionalidade ou etnia). Para dar consistência filosófica às suas teses, Fukuyama foi buscar em Hegel os fundamentos para sua teoria do "fim da história". Hegel acreditava num direcionamento da história da humanidade no sentido da evolução e do progresso. Para ele, a história humana era a realização progressiva da sua "idéia absoluta". Ao mesmo tempo, Hegel acreditava que haveria um "fim da história" - não no sentido de que, com a construção de uma sociedade superior e livre, a história da humanidade iria terminar, pois ela seria a manifestação da realização plena da "idéia absoluta". Fukuyama se apóia nessa concepção e no fato de Hegel considerar que a "história" havia terminado em 1806, depois da batalha de Iena, com a vitória de Napoleão sobre os prussianos.
Com isso, segundo Fukuyama, "Hegel estava dizendo que os princípios de liberdade e igualdade, bases do Estado liberal moderno, haviam sido descobertos e postos em prática na maioria dos países adiantados, e que não havia princípios ou formas de organização social e política alternativas superiores ao liberalismo".
Pode-se até compreender, do ponto de vista histórico e dentro da tradição dos grandes sistemas da filosofia clássica alemã, a perspectiva de Hegel, que conduziu a filosofia idealista a um de seus ápices. Hegel, como todos os filósofos de seu tempo, recebeu os poderosos influxos da Revolução Francesa de 1789, que efetivamente descortinou novos horizontes para a humanidade, ao derrubar a monarquia e o feudalismo. Napoleão, por seu lado, representou, para a intelectualidade progressista da época, a possibilidade de estender as conquistas da Revolução Francesa aos países da Europa ainda controlados por forças feudais e retrógradas. Assim, ao derrotar, em 14 de outubro de 1806, os prussianos nas batalhas de Iena e Auerstadt, os exércitos napoleônicos destruíram o ancien regime na Alemanha. Repetimos ser compreensível o sentimento de Hegel a respeito desses acontecimentos, que revolucionaram a ordem nacional e mundial da época. A burguesia ainda era uma força revolucionária triunfante e liderava as transformações sociais. O proletariado ainda não havia entrado em cena, não havia ainda elaborado a sua própria concepção política. Era difícil conceber uma igualdade melhor do que a burguesa. O ponto de partida não era o regime capitalista (e sua crítica), mas o regime feudal. |
Quase trezentos anos depois, no entanto, é completamente anacrônica a repetição dessas idéias, fenômeno só explicável por esse verdadeiro "porre" de ideologia capitalista que explodiu após a derrocada do Leste europeu. Como apregoar a excelência do capitalismo e da democracia liberal, se deles estão excluídos mais de dois terços da população do globo terrestre? Como tomar como coroamento da história da humanidade um regime que acirra as contradições sociais no interior dos países que mais encarnam o liberalismo, como os Estados Unidos? Como tomar como paradigma para a humanidade um sistema de vida que não pode ser estendido ao conjunto da população mundial?
O padrão de vida vigente nos países capitalistas adiantados só é possível em virtude de estar restrito a uma minoria. Como observa o historiador inglês Perry Anderson3, o privilégio de uns poucos requer a miséria de muitos, para ser sustentável. Segundo ele, "menos de um quarto da população do mundo detém atualmente 85% da renda mundial, e a diferença entre as participações das zonas avançadas e atrasadas ampliou-se ainda mais nos últimos cinqüenta anos". E observa que "nos anos 80, mais de 800 milhões de pessoas - mais do que as populações da Comunidade Européia, Estados Unidos e Japão somadas - tornaram-se ainda mais excruciantemente pobres, e uma em cada três crianças passava fome".
O que se pode ver e que o sistema capitalista - essa fantástica acumulação de riqueza nas mãos de uma parcela cada vez mais reduzida - está levando ao paroxismo a marginalização e as desigualdades sociais. Nos Estados Unidos, as manifestações explícitas de crise social - como os conflitos ocorridos em Los Angeles em abril e maio de 1992 - são de assustar os mais otimistas, exceto Fukuyama, que não entra na análise dessas questões, e prefere repetir a tese fácil de que tudo isso é simples acidente de percurso numa sociedade como a norte-americana. Mas não é o que os fatos revelam. Atualmente, cerca de 36 milhões de pessoas nos EUA (ou 14,7% da população total) vivem na pobreza4. Esse percentual era de 11% em 1970. Esse crescimento é resultado de um conjunto de fenômenos como crise econômica, desemprego, mudança do perfil tecnológico da indústria e anos seguidos de administração republicana (governos Reagan e Bush). Esta, de acordo com o receituário neoliberal, reduziu drasticamente os recursos destinados a programas sociais. O impacto dessa crise sobre a população pobre e negra é impressionante, com suas seqüelas de desagregação familiar, aumento do consumo de drogas, disseminação de doenças como a Aids e aumento da criminalidade.
Esse caldeirão de repente explode, como aconteceu na cidade de Los Angeles em 1992. Os distúrbios sociais se seguiram à absolvição, por um tribunal integrado por brancos, de um grupo de quatro policiais brancos que haviam agredido um negro, em março. Os protestos contra o veredicto se transformaram numa onda de saques e destruição generalizada. Após alguns dias, foram computados os resultados: 58 mortos, mais de mil prédios destruídos, prejuízos de mais de 1 bilhão de dólares. Os analistas procuraram mergulhar nas causas dessa tremenda crise e mostraram um país profundamente dividido entre ricos e pobres, entre brancos e negros, entre os ricos e prósperos subúrbios das grandes cidades e os seus centros miseráveis e deteriorados, entre a abundância e a pobreza. O capitalismo norte-americano há muito deixou de oferecer emprego e renda suficientes para a população. Estudos mostram que, de 1947 a 1973, a renda familiar nos Estados Unidos aumentou em 111%; nos últimos dezesseis anos, ela só cresceu 9%. Em 1970, 40% das famílias mais pobres recebiam 17% da renda nacional, enquanto os 20% mais ricos ficavam com 41%; em 1988, a participação dos estratos mais pobres reduziu-se a 15% da renda nacional, e a dos mais ricos elevou-se a 44%S. Essa face cada vez mais visível do capitalismo (mesmo em países do centro do sistema, como os Estados Unidos), ou seja, a acumulação excludente, que marginaliza parcela cada vez maior da população, para a qual o capitalismo não oferece nenhuma alternativa concreta, não merece a menor consideração por parte de Fukuyama.
Já dissemos que Fukuyama, manipulando idéias sobretudo de Platão, Hegel e Nietzsche, procura elaborar uma base filosófica para a sua tese de que a democracia liberal é o coroamento da história da humanidade. E um dos aspectos de seu livro que merece a maior atenção é aquele em que procura justificar a origem e a manutenção das desigualdades sociais entre os homens e as nações, resgatando idéias que justificam a dominação do homem pelo homem e que estão na essência da ideologia fascista. Mas talvez onde o fascismo de Fukuyama fica mais explícito é na parte em que ele analisa a questão da ordem internacional no mundo contemporâneo.
Segundo sua teoria, hoje o mundo está dividido entre os países capitalistas avançados, que representariam o "Estado universal homogêneo", e os demais países que ainda não atingiram esse estágio e que, na verdade, seriam os representantes da barbárie, significando uma ameaça para os primeiros. Ora, se a "barbárie" ameaça a "civilização", ou, para usar a terminologia mais velada de Fukuyama, se o "mundo histórico" ameaça o "mundo pós-histórico", então está criada a justificativa do uso da força por este último, para se defender legitimamente do primeiro. Ele aponta pelo menos dois terrenos de colisão clara entre esses mundos: o do petróleo e o da imigração. Diz que "a produção de petróleo continua concentrada no mundo histórico e é crucial para o bem-estar econômico do mundo pós-histórico". Por isso, ele prevê e justifica novos conflitos como a intervenção imperialista no Golfo Pérsico. No outro terreno, será necessário "conter a maré" caracterizada pelo enorme fluxo de migrantes que está indo de um mundo para outro.
A conclusão de Fukuyama é a de que a "força" continuará a ser a razão final nas relações entre esses dois mundos, ou, para usar uma de suas expressões, entre "democracias e não-democracias". E para reger essas relações, ele ataca e rechaça organismos como a ONU, que não seria uma sociedade de "nações livres", mas um ajuntamento que mistura estas últimas com ditaduras, que aceitou a "União Soviética de Stalin" inclusive com poder de veto em seu Conselho de Segurança, e aceitou também "Estados novos do Terceiro Mundo que compartilhavam pouco dos princípios liberais"...
Por tudo isso, segundo ele, na nova ordem internacional criada após o fim da guerra fria, uma liga das nações "teria que se parecer mais com a OTAN do que com a ONU (Nações Unidas) - isto é, ser uma liga de Estados realmente livres, unidos pelo compromisso comum com os princípios liberais". E completa: "Essa liga seria muito mais capaz de uma ação decisiva para proteger a segurança coletiva contra as ameaças vindas da parte não-democrática do mundo".
Eis a receita final descarada desse novo doutrinador da ideologia imperialista: quer uma "nova ordem mundial" inteiramente controlada por entidades como a OTAN, organização nascida do agressivo pacto militar firmado pelos países capitalistas avançados após a 2a Guerra Mundial para conter o avanço do socialismo.
Dessa forma, os países que representam e encarnam o "fim da história", os "países democráticos" da "pós-história" - na verdade, as atuais potências imperialistas, com os Estados Unidos à frente - ficariam de mãos livres para agir em defesa de seus interesses e perpetrar barbaridades, tudo em nome da "humanidade" e da "civilização". Onde está a diferença em relação ao fascismo? É um discurso antidemocrático, anti-socialista e agressivo, que, às vezes usando uma linguagem rebuscada, reflete o triunfalismo e a agressividade da ideologia capitalista após a derrocada do Leste europeu e da União Soviética. O livro de Fukuyama, além disso, não analisa e não derruba nenhum ponto essencial do pensamento socialista a respeito do capitalismo e da evolução histórica da humanidade. O ponto de partida do socialismo científico sobre o capitalismo e o de que este último é um regime fundado na exploração do homem pelo homem, da burguesia sobre o proletariado, sob a forma da apropriação da mais-valia, a forma especificamente burguesa de apropriação do trabalho não pago. Enquanto persistir essa relação de dominação, não se pode falar em libertação do homem. Como disse Marx, a produção capitalista significa a dominação do capitalista sobre o operário, a dominação da coisa sobre o homem, do trabalho morto sobre o trabalho vivo, do produto sobre o produtor. "Na produção material, no verdadeiro processo da vida social - pois o processo de produção é isso - dá-se exatamente a mesma relação que, no terreno ideológico, se apresenta na religião: a conversão do sujeito em objeto e vice-versa."
Esse modo de produção, que está condenado a produzir e reproduzir permanentemente tal relação social, não conduz nunca à liberdade, mas à opressão e à alienação. Essa cadeia precisa ser rompida, ou seja, os trabalhadores têm de rompê-la para se após sarem das condições de produção de sua vida material e se libertarem. Sem destruição do capitalismo, não existe o reino da liberdade, que não será o "fim da história", mas o início de uma nova era na história da humanidade. O socialismo significa um primeiro passo na superação do capitalismo e um avanço em direção ao comunismo, a uma sociedade sem classes, uma sociedade altamente desenvolvida e igualitária - não porque os homens estejam formalmente iguais em direitos e deveres, como na sociedade burguesa, persistindo entre eles a desigualdade econômica básica, fruto da exploração de uma classe por outra - mas precisamente porque as classes serão abolidas, restando apenas as diferenças individuais entre as pessoas. Nas palavras de Engels, o homem, ao tornar-se dono e senhor das suas próprias relações sociais, converte-se, pela primeira vez, em senhor consciente e efetivo da natureza. "Os poderes objetivos e estranhos que até aqui vinham imperando na história colocam-se sob o controle do próprio homem. Só a partir de então ele começa a traçar sua história com plena consciência do que faz. E só daí em diante as causas sociais postas em ação por ele começam a produzir, predominantemente, e cada vez em maior medida, os efeitos desejados. É o salto da humanidade do reino da necessidade para o reino da liberdade'." A partir daí, pode-se falar não no "fim da história", mas num verdadeiro "começo da história" para a sociedade humana.
A evolução da humanidade em direção ao reino da liberdade não se interrompeu neste final de século, marcado por tantos acontecimentos trágicos e por um aparente triunfo final do capitalismo. O historiador E. H. Carr faz uma reflexão no sentido de que a história vem sempre avançando, mas o! Prova que ninguém jamais acreditou num tipo de progresso que avançasse numa linha reta contínua, sem reveses ou desvios. Ele diz: "Há, nitidamente, períodos de regressão e períodos de progresso". Assim, este final de século poderia ser descrito como um período de regressão, de desvio, que não deve nos levar a perder o rumo do horizonte histórico da humanidade
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