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domingo, 1 de julho de 2018

Esqueçam a natalidade


O enfoque crescentemente negativo com que se encara a imigração para a Europa, e em particular os fluxos que partem do continente africano e do médio oriente, sugere que, em termos demográficos, a Europa não tem nenhum problema sério para resolver. Isto é, para lá do desprezo a que são sujeitos, na prática, os proclamados valores europeus do humanismo e da solidariedade, parece que a União Europeia não tem consciência da situação em se encontra, podendo assim dispensar os fluxos de entrada como contributo relevante para o seu rejuvenescimento.

O gráfico aqui em cima, contudo, deveria ser suficiente para perceber que o problema dificilmente se resolve, no médio-longo prazo, através da natalidade. Para que se tenha noção, o saldo natural (nascimentos menos óbitos) aproximou-se de zero em 2016 na UE28, na continuação da linha de queda que se regista, apesar das oscilações, desde meados dos anos sessenta. Mais: desde o início dos anos noventa, é o saldo migratório que mais contribui para o aumento da população, atingindo nos últimos anos valores próximos dos 100% na explicação do saldo demográfico (99% em 2016, quando em 1991 o contributo do saldo migratório não chegava a representar 40%).

O caso português não é menos ilustrativo desta tendência. Com a redução e estagnação do saldo natural desde o início da década de noventa, deve-se à imigração (particularmente relevante nesses anos) o aumento mais expressivo da população. E se ambas as dinâmicas (natural e migratória) entram no negativo a partir de 2011, a melhoria do saldo demográfico que se verifica a partir de 2013 resulta, no essencial, da recuperação do saldo migratório (o único que regressa a valores positivos em 2017). De facto, quando se observa a evolução do saldo natural nos últimos anos, constata-se que não só se mantém negativo como não deu, até agora, qualquer sinal de inversão (estabilizando em torno dos -23 mil).

Desengane-se pois quem considera, na Europa ou aqui, que tudo se resolve com o aumento da natalidade. Ou quem acha que esse aumento passa por despejar dinheiro sobre a questão (ainda por cima de forma iníqua, como propôs recentemente o PSD). Se levar à prática os valores humanistas que se apregoam não é razão suficiente para acolher a imigração que chega de forma dramática às portas da Europa, encarem-se então esses fluxos como um contributo indispensável para salvar a demografia europeia e resolver, mesmo que egoisticamente, um problema europeu.


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