Estudo da Nova mostra que SNS recuperou quase metade do seu orçamento com faltas evitadas e aumento da produtividade
Os cuidados prestados pelo Serviço Nacional de Saúde geraram 5 mil milhões de euros para a economia no ano passado, o que equivale a dizer que o SNS recuperou quase metade do seu orçamento só com faltas ao trabalho evitadas e aumento da produtividade. Os dados constam do estudo Índice de saúde sustentável 2017, realizado pela Nova-IMS, da Universidade Nova, que será apresentado hoje na 7ª conferência Abbvie/TSF/DN, no Centro Cultural de Belém.
Os portugueses faltaram em média quase seis dias ao emprego no ano passado, 2,6% do tempo total trabalhado, absentismo que se traduziu em 2,1 mil milhões de euros de prejuízo. Mas os cuidados prestados pelo SNS evitaram que o número de dias faltados fosse maior, defende o estudo: o número médio de absentismo subiria para 7,8 dias, totalizando um prejuízo de 2,8 mil milhões de euros. Os investigadores analisaram ainda, pela primeira vez, o impacto de situações de doença que poderão ter influenciado o desempenho num dia normal de trabalho. E aqui, as perdas de produtividade equivalem a 9,3 dias de trabalho, que levam a um prejuízo de 3,3 mil milhões de euros. Mas tal como no ponto anterior, a conclusão é que o SNS permitiu evitar outros 7,3 dias de trabalho perdidos em produtividade, traduzidos numa poupança de 2,6 mil milhões de euros.
Tendo em conta os dados do estudo, que se baseou numa amostra de 500 entrevistas telefónicas, só na redução do absentismo e na melhoria da produtividade, o SNS levou a uma poupança de 3,3 mil milhões de euros, a que Pedro Simões Coelho, diretor da Nova Information Management School e principal coordenador do Projeto Indicador de Saúde Sustentável, junta outra variável importante. "Com este resultado fica comprovado que o SNS tem um impacto extremamente positivo quer no absentismo laboral, como na produtividade, permitindo poupanças significativas. Mas podemos ir mais longe na leitura destes dados e mostrar que o investimento no SNS não traz apenas poupanças, mas também um importante retorno económico. Se considerarmos a poupança de 3,3 mil milhões de euros de impacto por via dos salários e a relação entre a produtividade/remuneração do trabalho (valores referência do INE), obtemos um retorno para a economia que ronda os 5 mil milhões de euros".
Metade dos utentes de boa saúde
Num retrato geral, a população mostra-se muito satisfeita com o seu sistema de saúde, embora a avaliação tenha descido ligeiramente de 2016 para 2017 em todas as áreas analisadas pela equipa da IMS. Em relação à qualidade dos serviços de saúde, por exemplo, houve uma redução de 1,6 pontos percentuais, embora seja de destacar que ainda assim dois terços dos utentes mostram-se satisfeitos. Aliás, em seis indicadores avaliados, apenas um fica abaixo dos 60% de satisfação: o dos tempos de espera entre a marcação e a realização dos atos médicos (53,1%).
No que parece ser uma aparente contradição, apesar da qualidade percecionada descer, a qualidade técnica (avaliada por um grupo de peritos ) teve uma subida considerável de mais de cinco pontos, de 68,5, em 2016, para 73,8 no ano passado. Resultado que se explica com o facto de os utentes avaliarem o sistema em função de critérios como o tempo que esperam para serem atendidos nos serviços, enquanto os especialistas analisam indicadores objetivos como mortalidade por AVC, reinternamento em 30 dias ou sépsis pós-operatória.
O cruzamento destes dados com a atividade, a despesa e o deficit do SNS (sendo de salientar que, em termos percentuais, o financiamento aumentou mais do que a despesa em 2017) permitiu calcular o índice de sustentabilidade da saúde, que progrediu dos 102.2 para os 103.0 pontos. Segundo Pedro Simões Coelho, "a qualidade efetiva dos serviços de saúde melhorou consideravelmente, a atividade do SNS está estável e o deficit diminuiu de 300 para 230 milhões [o orçamento para o SNS foi de 9,54 mil milhões de euros, enquanto a despesa se situou nos 9,77 mil milhões]. Estão assim reunidas as condições para a evolução favorável do índice de sustentabilidade, que revela que o SNS está num caminho positivo"
Também o índice global do estado de saúde dos portugueses evoluiu dos 73,1 pontos registados em 2016 para os 75,6 pontos - numa escala de 0 a 100 em que 100 corresponde ao estado de saúde ideal. Se a este índice fosse retirado o contributo do SNS, o valor ficaria pelos 60 pontos. Metade dos 500 inquiridos declara ter um estado de saúde bom, mais 9% do que no ano anterior, mas ainda assim quase um terço dos portugueses diz ter uma saúde razoável ou má. Conclusões que o ministro da Saúde terá oportunidade de comentar hoje no CCB, na abertura da conferência Abbvie/TSF/DN.
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