Na análise que faz ao turismo em Portugal, a diretora de Marketing da Mastercard vê mais oportunidades que desafios no que diz respeito a pagamentos.
Não é como turista que a espanhola Eva Ruiz costuma aterrar no aeroporto de Lisboa.
Mas a Directora de Marketing e Comunicação da Mastercard para a Península Ibérica tem consciência dos malabarismos que muitos visitantes são obrigados a fazer quando chegam a Portugal sem trocos na carteira.
Apanhar um táxi para o centro é o primeiro desafio. Se o turista vier de um país como a Dinamarca, onde os comerciantes já nem são obrigados a aceitar pagamentos em dinheiro, é provável que não tenha sequer uma nota de dez euros para pagar a viagem. A capital do país vizinho resolveu o problema há pouco mais de um ano.
A Câmara de Madrid criou uma lei que obriga os táxis que circulam na cidade a ter um terminal de pagamento com cartão de débito ou crédito. Pode Portugal fazer o mesmo? “Seria uma medida muito positiva para todos. A experiência em Madrid provou que é uma solução que beneficia tanto os taxistas como os clientes.
Ao inicio os taxistas estavam um pouco relutantes com a ideia, mas quando viram os benefícios de não terem de andar com dinheiro, perceberam que é uma medida que melhora o seu trabalho e a experiência do cliente”, afirma Eva Ruiz em entrevista ao Dinheiro Vivo.
Os primeiros passos estão a ser dados. A Mastercard assinou em setembro do ano passado um acordo com a ANTRAL, que permite que os táxis da associação aceitem pagamentos eletrónicos através de leitores contactless.
“É uma oportunidade para os visitantes chegarem ao aeroporto e facilmente apanharem um táxi para o centro sem terem de parar para levantar dinheiro. Neste sentido, a colaboração entre o setor publico e o privado é muito importante”, sublinha a responsável.
Na análise que faz ao setor do turismo em Portugal, a diretora de Marketing da Mastercard vê mais oportunidades que desafios no que diz respeito a pagamentos.
“Nos grandes comerciantes, restaurantes ou hotéis os pagamentos eletrónicos são amplamente aceites. Mas ainda há muitos pequenos comerciantes que não aceitam cartões ou pagamentos abaixo de um certo valor.
Há aí uma oportunidade para a inclusão”, destaca.
A responsável acredita que os comerciantes que recusam pagamentos por débito ou crédito estão a perder dinheiro. “Quando um turista chega a Portugal, é no cartão ou no telemóvel que está a totalidade do seu potencial de aquisição. Com estes meios, os turistas podem gastar tudo que têm, e não apenas as notas ou moedas que trazem na carteira”, sublinha.
Segundo Eva Ruiz, não é só o comerciante que perde dinheiro, mas toda a economia.
A responsável admite que ainda vai levar algum tempo até Portugal “mudar o chip”, mas ao mesmo tempo deixa elogios ao país. “Portugal pode fazer tudo bem desde o início, porque está muito virado para a inovação e tecnologia, e aí Espanha tem a aprender com Portugal.
Em termos de gestão de fraudes, por exemplo, Espanha não chega perto do vosso nível, são muito mais eficientes”. “Os dados dão-nos lições muito valiosas”
O último estudo Global Destinations Cities Index da Mastercard colocou Lisboa como a segunda cidade europeia com o maior crescimento de visitantes. Os dados da gigante dos pagamentos revelam que 25% dos gastos dos turistas na capital são destinados à gastronomia.
O restante divide-se entre alojamento, transportes e compras. “É nas compras que está a maior oportunidade, o número deveria ser mais alto.
Noutras cidades comparáveis com Lisboa, as compras estão à frente. Por isso é que é importante ter os canais de pagamento certos”, sublinha Eva Ruiz.
A espanhola descreve Portugal como “o segredo mais bem escondido da Europa”, e afirma, por experiência, que esse é um rótulo que vem com riscos. “Quando um destino é descoberto de repente, e é invadido por muitos turistas de uma só vez, pode ser difícil gerir essa situação.
Por isso é importante preparar a eficiência durante o processo de massificação”, aconselha. Essa eficiência passa, por exemplo, por aliar o contactless aos transportes públicos, como fez o metro de Londres, explica Eva Ruiz.
“Também conseguimos ajudar as administrações públicas a melhorar as condições de acesso às atrações principais de uma cidade, porque conseguimos perceber, por exemplo, quando e a que horas as pessoas as visitam”, destaca. Não é magia nem adivinhação.
O segredo está no ativo mais valioso da Mastercard, e de todas as tecnológicas do mundo: quantidades massivas de dados. “Temos acesso a enormes quantidades de dados e conseguimos analisá-los, compreendê-los e gerar conhecimento sobre o comportamento dos turistas nos diferentes destinos.
E perceber o que eles procuram nesses destinos”, afirma a diretora de Marketing da Mastercard. Considerados como a matéria-prima do século XXI, que já vale mais que o petróleo, os dados são “anónimos”, garante a Mastercard, e tratados de forma agregada.
“Não olhamos para dados individuais”, garante a responsável.
“Os dados dão-nos lições muito valiosas sobre como aumentar as vantagens competitivas de um determinado local. Conseguindo comparar as diferenças dos gastos dos turistas de cidade para cidade, é possível melhorar alguns aspetos dos locais”, refere.
Sobre o futuro, Eva Ruiz tem apenas uma certeza. “Estamos apenas no início do longo caminho do que os dados vão fazer”. No turismo e não só.
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