No mesmo dia, da água e da poesia, um meu amigo homenageava Bocage, nós dávamos a conhecer Arménio Vieira. À coincidência da data, juntam-se outras a tal ponto que, se me dessem a ler Bocage e Arménio, em poemas anónimos, eu diria serem do mesmo autor.
Sobre o poeta cabo-verdiano, prémio Camões (que ele próprio refere não lhe ter acrescentado nem fama nem pecúlio) leu Domingos Lobo um texto de um estudo seu (que deve ser lido, aqui) e do qual extraio este naco:
«Ainda de O Brumário, encontramos o mais transgressor dos poemas de Arménio Vieira, recolhidos nesta antologia: Poema Sujo em Jeito de Rap. O poeta alerta-nos para o peso das palavras, para o medo que ainda continuamos a ter delas, mas são apenas palavras mesmo quando se referem e definem os actos mais íntimos da nossa condição. O poeta, tal como os nossos trovadores das cantigas de escárnio e maldizer, dos séculos XII e XIII, ou os nossos pré-românticos do século XVIII – Bocage é um dos poetas eleitos de Vieira -, cultores de poemas eróticos e satíricos, não desdenhariam subscrever. Neste poema em forma de Rap – e essa circunstância formal é já uma transgressão do poeta, investindo nessa particularidade, também ela rebelde, da cultura popular urbana. Não tenhamos, portanto, medo das palavras, quem tem medo das palavras, interroga o poeta?, perante esta variante anti-lírica da sua poesia.»
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