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quinta-feira, 18 de maio de 2017

O espírito revolucionário de Isadora Duncan - a bailarina que transformou a dança no século XX


Entre as coisas que não podemos materializar, apenas sentir, uma delas é a sensação proporcionada pela dança. O que são esses movimentos, em um instante aéreos e fluídos desafiando a gravidade, em outro marcantes e agarrados ao chão, que desafiam os limites do corpo e acabam por equilibrar força, leveza e sensualidade? Só um bailarino deve saber o quanto seu corpo sofre e é colocado a prova em ensaios exaustivos até chegar a perfeição. Mas a consciência e o domínio do próprio corpo em movimento, permite ao mesmo tempo esquecer-se dele e entrar em comunhão com o espaço e a música ao seu redor.
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    Na antiguidade foi uma das três principais artes cênicas ao lado do teatro e da música, e no antigo Egito já se realizavam danças em homenagem a Osíris. A dança é uma celebração da vida desde sua origem, manifestação dos sentimentos através do corpo, e fora do mundo da dança, no nosso dia a dia, até esquecemos que temos um corpo vivo, capaz de se expressar, perdemos essa consciência, e por vezes parece que carregamos uma carcaça pesada e inexpressiva de músculos e ossos. Para quem olha, só resta se colocar no lugar do bailarino e imaginar como aqueles movimentos devem ser libertadores.
    Isadora Duncan foi pioneira da dança moderna e revolucionou a dança no século XX, causando polêmica ao ignorar todas as técnicas do balé clássico. Foi a primeira que ousou tirar as sapatilhas e dançar com os pés descalços usando túnicas vaporosas, com os cabelos meio soltos, em cenários simples composto apenas por uma cortina. Ela se inspirava em figuras das dançarinas nos vasos gregos encontrados em museus como o Louvre de Paris, e sua proposta era completamente diferente das regras do balé clássico, com movimentos improvisados, inspirados nos movimentos da natureza como o vento, plantas e animais. Corria pelo palco como uma bacante da mitologia grega evocando o espírito dionisíaco. Outro ponto forte na sua dança é que Isadora utilizava músicas até então apreciadas apenas pela audição, dançando ao som de Chopin, Beethoven e Wagner.Foi a terceira filha dos quatro tidos pelo casal Dora Gray Duncan, pianista e professora de música e Joseph Charles, poeta.
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    Isadora Duncan era o pseudônimo artístico de Dora Ângela Duncanon, nascida em 27 de de maio de 1877 em São Francisco nos EUA. Isadora tinha personalidade forte e não se curvava às tradições. Não era afeita ao casamento, tendo casado três vezes e só o fazendo porque tinha a possibilidade de separar-se, caso necessário. Seus pais eram divorciados, e embora tenha tido uma infância humilde, sua mãe fazia questão de uma boa educação para os filhos, que era complementada com aulas particulares de literatura, poesia, música e artes plásticas. Isadora começou a ter aulas de balé clássico por volta dos 4 anos e aos 11 já tinha um estilo pessoal próprio de desenvolver sua dança com movimentos espontâneos. Em 1899 partiu para a Europa buscando firmar-se como dançarina, e alcançou grande sucesso em Paris em 1902, ao apresentar-se no Teatro Sarah Bernhardt, quando passou então a ter grande notabilidade mundial. Duncan foi duramente criticada nos Estados Unidos, sua terra natal, quando resolveu partir em turnê pela Rússia, tendo seu trabalho muito bem recebido naquele país, e estabelecido boas ligações com intelectuais russos. Ela deixou a América em 1909 e nunca viveu lá novamente, tendo retornado apenas para passeios. Em 1920 casa-se com o poeta soviético Serguei Iessienin - poeta que teria inspirado Mayakóvski - de quem se separa dois anos depois. Serguei se mata em 1925, é quando Isadora vai para a França e passa seus últimos anos em Nice.
    Em agosto de 1916, aos 38 anos, Duncan se apresentou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Dizem que durante sua estada no Brasil, teria havido um affair entre ela e Oswald de Andrade que além da literatura e da pintura, era fascinado por dança. Oswald a teria conhecido num jantar no Rio e recebido um convite para que fosse vê-la em São Paulo. Ele relembra no volume biográfico Um Homem Sem Profissão: “Quem era eu, o menino que vivia das sopas de Cerqueira César, para afrontar de perto, sozinho e a horas mortas, o gênio andejo da mulher despida que levara o escândalo de seu espírito e o fascínio de sua carne às cinco partes do mundo?”. Apesar da insegurança, ele teria subido até o quarto no hotel onde a bailarina estava hospedada em São Paulo e se deparado com uma mesa posta para dois com um balde de champanhe no centro. Oswald conta poeticamente, em suas memórias, que os dois passeavam pela cidade de São Paulo e, “num pôr de sol entre árvores, ela dançou para mim, quase nua”.
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    O desastre que causou a morte de seus dois filhos por afogamento em 1913 e o suicídio de seu ex-marido em 1925, a atormentaram até o fim de sua vida. Isadora teve ela mesma uma morte trágica em 1927 na cidade de Nice em Paris, logo depois de publicar seu livro autobiográfico “My Life”, quando em um passeio em seu carro conversível, morreu asfixiada pela sua longa echarpe que prendeu-se às rodas do veículo. Isadora partiu cedo, mas deixou seu estilo, seguido até hoje por muitas bailarinas em todo o mundo.
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    Em 1979 em Nova Iorque, foi criada em sua homenagem a Isadora Duncan Dance Foundation, que tem entre suas missões, desenvolver projetos educacionais de alcance para as futuras gerações de bailarinos, através da implementação em diversas comunidades carentes, para que se desenvolva a valorização cultural, a confiança e o incentivo a auto expressão.
    Você já foi selvagem aqui uma vez. Não deixe que eles lhe domem. 
    Isadora Duncan

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