Um mau coração e um médico sem curso
Era uma vez, um paciente que mostrava sinais de estar cada vez mais fraco. Ao longo da sua vida, passara por diversas curas, mas - levado por modas várias - sentia-se incapaz de viver de forma sustentável.
Foi então que apareceu um "médico" que lhe prometeu uma cura rápida.
O seu mal - dizia o "médico" - era que comia e respirava demasiado. A terapia passava por apertar nos gastos porque, assim, o paciente acabaria por viver com menos e, ao fazê-lo, iria habituar-se a viver com pouco, cozinhando em casa, levando a marmita para o emprego, e a gastar menos em comidas e bebidas e festarolas, todas elas compradas fora. Era forçoso - dizia o "médico" - parar com o ciclo infernal do "pára-arranca": o coração enchia com o consumo, para ter de parar abruptamente para suster o desequilíbrio externo. O seu organismo tinha de viver de forma mais pausada e regular, em paz.
O "paciente" aceitou a terapia porque era uma ideia muito bem achada. Passou uma procuração ao "médico" para que vendesse as suas propriedades no estrangeiro. E começou a respirar menos e a comer menos. Quando se sentia a desfalecer, o "médico" telefonava-lhe a dizer que era bom sinal, que o organismo estava a adaptar-se e que tinha de ajustar-se ainda mais. Ele tinha um coração estragado, que era necessário outro coração. Mais dieta, mais exercício. Um novo pulsar. E o paciente respirou ainda menos e ia comendo aqui e ali. Até que começou a sentir-se mesmo mal e teve de ser internado.
Aí, o "médico" aproveitou para fechar-lhe a torneira do soro, sentou-se no peito do doente e apertou-lhe o pescoço, ordenando-lhe que não respirasse nem comesse. Tinha de emagrecer rapidamente para evitar o aperto da gordura. E assim fez durante 2 anos. Ao fim desse tempo e dando muitos nas vistas aquela figura branca sobre o doente, teve de largar-lhe o pescoço. E o paciente, aflito, começou a respirar outra vez. Aos pingos, lá foi recebendo alimento intravenoso. Já o "médico", cercado de olhares desconfiados, acossado pela má imagem, passou a dizer que fora sua a ideia de libertar o pescoço do paciente e que, como se via, já estava bem melhor. O "médico" saiu para a rua, esfuziante, a gritar que o paciente ia melhorar em breve, muito rapidamente, que a sua terapia resultara!!
O "médico" ainda anda por aí, mas acabará "detido", por maus tratos ao paciente, alguns deles para sempre. E correm rumores de que parte do valor das vendas das propriedades do paciente foram para um fundo dos amigos banqueiros do "médico", que entretanto fugiram e são perseguidos pela polícia.
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