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sábado, 1 de agosto de 2015

Militarizar África não vai acabar com terrorismo na região, diz Reginaldo Nasser

Militarizar África não vai acabar com terrorismo na região, diz Reginaldo Nasser


Em debate sobre continente, professor de relações internacionais ressaltou: apenas 7% das organizações terroristas foram destruídas por meio da força
O Boko Haram, aliado do Estado Islâmico, e o Al Shabaab, filiado à Al Qaeda, são os dois principais grupos jihadistas que atuam na África. O primeiro, na Nigéria, e o segundo, na Somália, tornaram-se conhecidos por atos extremamente violentos. Além de suas ações, episódios recentes de ataques a países como Tunísia e Egito trouxeram o continente para o centro do debate sobre terrorismo. Para tratar essa questão, o Instituto Lula realizou, nesta quarta-feira (29/07), o debate “Os avanços da democracia na África e a ameaça de terrorismo”.
As chamadas ações terroristas, no entanto, não atingem o continente como um todo, e sim uma minoria de países, observa o professor de relações internacionais Reginaldo Nasser, um dos debatedores. Mesmo assim, na visita que fez a países do continente, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pressionou os governos da região a “aumentarem recursos e investimentos militares para combater o terrorismo”. É nesse sentido que entra em cena a ação midiática: para levar a crer que essa é uma ameaça a todo o continente. Para Nasser, veicular esse tipo de ato violento sob a forma de "uma epidemia" é o que dá sentido para o aumento do orçamento bélico.
Na contramão dessa percepção, está o fato de que "a ideia de combater terrorismo com ação militar como é proposto na África e no Oriente Médio não funciona. Apenas 7% das organizações terroristas foram destruidas por ação militar", pontua Nasser.
Vanessa Martina Silva/ Opera Mundi

Reginaldo Nasser observou que principais vítimas de atentados terroristas são muçulmanos
Além de Nasser, que é chefe do departamento de Relações Internacionais da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), participaram como debatedores os professores Paulo Hilu, coordenador de pesquisa em pós-graduação do núcleo de estudos em Oriente Médio da UFF (Universidade Federal Fluminense), Salem Nasser, coordenador de direito global da FGV (Faculdade Getúlio Vargas) e integrante do Conselho África do Instituto Lula, além de Celso Marcondes, diretor do Instituto Lula e responsável pela Iniciativa África.

“Ao contrário do que muitos dizem, pobreza não gera terrorismo, e sim condições estruturais que favorecem vulnerabilidades, a ausência de justiça, o sentimento de humilhação ou exploração. Assim, a explosão do ódio pode ser canalizada para uma ação terrorista”, explica Reginaldo Nasser. Na Nigéria, exemplifica o professor, os atos do Boko Haram ocorrem onde há recursos naturais.
Já Paulo Hilu, da UFF, ressalta que os grupos que promovem atentados o fazem para chamar a atenção da mídia, com atos espetaculares e provocativos. É nesse sentido que precisa ser entendido, observa ele. A filiação do Boko Haram ao grupo Estado Islâmico, cuja atuação se concentra principalmente no Iraque e na Síria, “é uma relação mais simbólica do que efetiva, mas permite que as ações do Boko Haram passem a estar na primeira página do [jornal norte-americano] The New York Times e não na terceira como seria”.
Agência Efe

Sequestro de mulheres e meninas é uma das práticas do Boko Haram que mais gera revolta na Nigéria
O professor também destaca ainda o fato de, na Tunísia, ter ocorrido um atentado terrorista com uma pessoa treinada fora do país e este ter sido condenado pelo partido islâmico tunisiano, o que também desmistifica a ideia de que muçulmanos são terroristas ou apoiam esse tipo de ato.
Democracia
“Para falar da África é preciso primeiramente se livrar de estereótipos. O continente africano vive um processo de desenvolvimento econômico e de consolidação da democracia. Dos 55 países, cerca de 40 mantêm eleições regulares com partidos, campanha eleitoral com horário na TV e respeito ao resultado”. Assim, Marcondes chamou a atenção para os processos que estão sendo consolidados na região.


A ideia de que o continente é dominado por ditaduras não procede, argumenta. “Somente este ano, ocorreram 23 eleições na África. Mas, quando o processo ocorre normalmente, sem incidentes, isso não vira notícia na imprensa”, avalia o também jornalista Marcondes. Ele observa ainda que “não podemos usar, na África, a noção de democracia da Europa ou América Latina. (…) Além das diferenças de costumes e tradições, temos uma diferença brutal histórica. Basta ver que alguns países africanos têm apenas 40 anos de independência”, observa.
Após séculos de exploração e espoliação, foi apenas no século 21 que o processo no continente começou a mudar, com o crescimento de outros países que passaram a atuar na região e “aproveitam as riquezas estabelecendo novas relações”.
Agência Efe

Civis fogem da cidade de Buulumareer sob ocupação do Al Shabaab: crise social e alimentar devasta Somália
Particularidades democráticas
Quando as fronteiras dos países africanos foram traçadas, as potências coloniais não levaram em conta especificidades como características culturais, religião e organizações sócio-políticas, criando limites completamente artificiais. Assim, um dos grandes desafios dos líderes africanos é conciliar os diferentes grupos que foram colocados, à revelia, sob um mesmo guarda-chuva chamado país.
É por essa razão que não é possível comparar esses processos com outros, porque cada país lida com um contexto e realidade diferente e deve buscar uma forma de democracia própria, aponta Marcondes.
Vanessa Martina Silva/ Opera Mundi

Maioria dos países africanos têm governo estável e sistema democrático, observa Marcondes
Nesse sentido, na Nigéria, por exemplo, os partidos representam regiões onde predominam grupos específicos e os ministérios são divididos entre partidos diferentes para que haja consenso na hora de aprovar determinadas medidas, observa Marcondes.
Já em Ruanda, a maior parte dos cargos políticos é ocupada por mulheres. Apesar de ser um ponto fora da curva, Marcondes explica que isso se deve ao fato de a maior parte da população masculina ter sido massacrada pelo genocídio ocorrido em 1994.
“Na África há monarquias, na Europa também; na África há ditaduras, a nossa acabou há pouco. Ditaduras tomaram quase a América Latina como um todo [entre os anos 1960 e 1980]”, conclui Marcondes ao apontar a complexidade do debate e a necessidade de se respeitar a soberania dos países.
operamundi.uol.com.br

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