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sábado, 1 de agosto de 2015

A RAZÃO DA PASSADEIRA

A Razão da Passadeira

passadeira
Num país civilizado as passadeiras servem para indicar aos automobilistas e aos peões onde uns devem parar para os outros puderem atravessar a rua. Em Portugal não, facto que nos torna num dos países europeus com mais mortes por atropelamento nas passadeiras (e fora delas).
A passadeira em Portugal tem, para a maioria dos peões, um carácter místico a roçar o sobrenatural inconsequente. A passadeira está para nós como a folha de coca estava para as tribos astecas: torna-nos invencíveis. No momento em que põe o pé numa passadeira, qualquer taco de pia enfezado se torna num hulk mal humorado, pronto a dilacerar o camião de oito rodados que o impeça de desempenhar a hercúlea tarefa de atravessar a rua.
Não adianta explicar aos peões portugueses que não há nenhum dispositivo mágico e inexpugnável que se ergue entre eles e os automóveis a partir do momento em que eles pisam naquelas faixas brancas.
Não adianta explicar aos peões portugueses que a passadeira é um compromisso tácito entre eles e os automobilistas. Isto porque os peões se recusam a assumir qualquer compromisso com as bestas condutoras. Afinal de contas, a maioria dos peões portugueses são também eles condutores, e sabem o que a casa gasta quando estão atrás do volante. Por isso mesmo não há compromissos possíveis. A passadeira é deles e os automobilistas que se lixem! Por isso, de vez em quando, encastram os maxilares num capot alheio.
Esta perspectiva nacional da passadeira dá origem a uma série de estilos de passagem. Os portugueses são uns verdadeiros artistas a atravessar as passadeiras e fazem-no com um estilo muito próprio, perfeitamente alheados do facto de puderem ser passados a ferro no momento seguinte. Eis então uma lista dos meus estilos preferidos:


O Peão Pegador de Touros
O peão «pegador de touros» aborda a passadeira agressivamente atravessando-a determinado e sem medos, de peito cheio e com a cabeça ostensivamente à frente do corpo, olhando os condutores fixamente nos olhos, com ar de que lhes parte o carro todo à dentada.

O Peão (Falso) Alienado
Este peão atravessa carrancudo a passadeira a olhar sempre em frente, a fingir que não está a prestar atenção nenhuma aos carros que circulam na rua. Podemos perceber que é um falso alienado quando os vemos olhar para o carro mais próximo pelo canto do olho sem desviar a cabeça do passeio para onde se dirige.

O Peão Snob
O peão snob entra na passadeira com o ar mais descontraído do mundo, olhando desinteressadamente por cima dos automóveis que dele se aproximam, como se estivesse à procura de qualquer coisa no horizonte longínquo. No momento em que está no meio da passadeira agradece com um displicente acenar de mão ao condutor mais próximo, sem se dignar a olhar para ele – para o peão snob é uma honra para qualquer condutor ter o privilégio de o ver atravessar a passadeira.

O Peão Sinaleiro
Os peões desta estirpe parecem polícias sinaleiros sem farda, dado que atravessam a passadeira levantando o braço em sinal de stop para a esquerda e para a direita com um ar autoritário de agente da autoridade.

O Peão Indignado
Esta tipologia de peões não é muito assertiva a atravessar a passadeira. Ficam ali parados, a olhar de um lado para o outro à espera que algum condutor tenha a amabilidade de parar. Como o animal de condução só reage ao movimento, o peão indignado acaba por ficar a gesticular e a apontar para a passadeira, sem no entanto a atravessar para o outro lado.

O Peão Pasmado
É aquele que parece ser um «pegador de touros» mas que a dada altura do seu percurso ao longo da passadeira perde a coragem, borra-se de medo e fica estático, no meio da passadeira, a olhar esgazeado para os condutores parados.

O Peão Indeciso
Os indecisos são uns chatos porque entram na passadeira e recuam e voltam a avançar para recuar no momento seguinte, o que baralha o mais santo dos condutores. Na realidade não se percebeu até hoje se este tipo de peões quer mesmo atravessar a rua ou se está simplesmente a testar a paciência dos condutores.

A «Peôa» Femme Fatale
Exclusivo do género feminino, este tipo de peão encara a passadeira como uma passagem de modelos e o seu objectivo não é somente passar para o outro lado: é fazer os condutores do sexo oposto passarem-se, também eles, para o outro lado. São normalmente atropeladas por condutoras, perdendo algumas vértebras no processo.

O Peão Simpático
É tão inconsciente como os outros a atravessar alarvemente a passadeira, mas tem uma exuberância que normalmente lhe salva a vida. O peão simpático parece ser amigo de longa data todos os condutores à sua volta, cumprimentando e agradecendo efusivamente a todos à sua passagem.

Da próxima vez que atravessarem a passadeira façam-no com estilo, ok? Cuidado meninas...


www.razao-tem-sempre-cliente.com

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