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quarta-feira, 13 de junho de 2012

QUE DEUS É ESSE DOS RICOS - POESIA DE BERNARDO PASSOS - POETA ALGARVIO

Morre o pobre e nem caixão 
Vai no esquife, que desgraça! 
Para o cemitério passa 
Sem padre nem sacristão!... 
Quem fará esta excepção?... 
Se é Deus que rege os destinos 
Dos grandes e pequeninos, 
E todos são filhos seus... 
Pra desmentir esse Deus, 
Morre o rico, dobram sinos. 

Diz, padre, que leis são essas 
Que servem pra ti somente... 
Tu confessas toda a gente 
E à gente não te confessas... 
Diz por que tanto te interessas 
Nesses segredos que encobres, 
Porque é que não te descobres 
Nos jornais ou num sermão, 
Dizendo porque razão 
Morre o pobre e não há dobres? 

Só os ricos são gerados, 
Dessa Virgem, desse Deus?... 
Só eles são filhos seus 
E os pobres são enteados?... 
Padre, tu só tens cuidados 
Com os ricos, teus compadres, 
Que deixam ir as comadres 
Esmolinhas oferecer 
A Deus, sem ninguém saber... 
Que Deus é esse dos Padres?... 

Qual é o Deus que autoriza, 
Ao rico, mil esplendores, 
E aos pobres trabalhadores, 
Nem pão, nem lar, nem camisa?... 
Manda, pra quem não precisa, 
O oiro, a prata e os cobres, 
Palácios, honras de nobres!... 
E eu, triste farrapo humano, 
Julgo esse Deus um tirano, 
Que não faz caso dos pobres 


Bernardo Passos

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