Eis que Miguel Relvas lá decidiu comunicar aos portugueses (finalmente!) uma palavrinha sobre o seu futuro no
executivo de Passos Coelho. Para dizer o quê?
Que finalmente adquiriu algum sentido de Estado e está disposto a sacrificar o seu interesse pessoal em benefício do
interesse de Portugal?
Que finalmente tomará uma atitude digna e respeitável e decide abandonar o Governo pelo seu próprio pé?
Não, nada disso. Tais decisões não seriam compagináveis com o perfil político de Miguel Relvas:
o Ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares limitou-se a dizer que continuará no Governo -
e ainda mais forte.
Passo Coelho aceita e até defende-o acerrimamente: o Governo vai pagar caro,
muito caro, por transportar alguém que está completamente descredibilizado aos olhos dos portugueses. E não é um Ministro qualquer: é tão somente a sombra
de Passos Coelho (aliás, oficiosamente, o que sucede é o inverso:
Passos Coelho é que é uma sombra de Miguel Relvas!). O Governo Passos Coelho só terá duas soluções possíveis:
ou livra-se de Miguel Relvas já e confere um ar de desassombro e confiança; ou então,
Passos Coelho cairá com Miguel Relvas. Não tenham dúvidas:
já o disse e reitero aqui que Passos Coelho tem medo de Miguel Relvas.
Dito isto, como tem sido a vida de Miguel Relvas desde a revelação do escândalo em que está envolvido?
Por estranho que pareça, tem sido de uma serenidade bizarra face à
gravidade do escândalo e dos interesses envolvidos.
No que concerne ao PSD, a reacção foi a esperada e normal, dentro da anormalidade em que o
nosso sistema partidário se instalou.
Tenho a certeza que pessoas inteligentes, como Jorge Moreira da Silva,
estão muito incomodadas
com o episódio das secretas em que Relvas está envolvido:
mas, mesmo assim, aceitam dar a cara para defender o ministro -
só porque pertencem ao mesmo partido. Muitos e muitos militantes do PSD me confidenciaram este fim-de-semana
que consideram que Miguel Relvas não tem perfil,
nem substrato intelectual ou profissional para integrar o Governo - mas não o podem afirmar publicamente,
porque, apesar de tudo, o Miguel Relvas
ainda manda no partido, manda no país (" o Passos não manda nada",
eis o sentimento geral do povo português)
e sabe-se lá mais no quê -logo, mais vale aguentar Miguel Relvas do que reconhecer a sua fragilidade.
O CDS, naturalmente,
não foi tão convicto na defesa, nem tão crítico quanto idealmente deveria ser,
mas, honra lhe seja feita,
não embarcou na defesa irracional do Ministro.
Posto isto, convém centrar a nossa atenção na questão mais pertinente face aos dados actuais do problema:
o que fará Miguel Relvas agora, face à confirmação das suspeitas
dos portugueses face à sua falta de
independência para exercer o cargo? Vejamos.
Ora, Miguel Relvas irá resguardar-se, aparecendo o mínimo possível, só surgindo em
aparições públicas e apresentações que se insiram no âmbito de actividades ou funções do seu Ministério.
Apenas e só! Nem mais, nem menos. Com que intuito? Desde logo, tornar um
escudo protector que salvaguarde Relvas
de responder a perguntas incómodas dos jornalistas; em segundo lugar, para tentar mostrar
aos portugueses que enquanto uns criticam, especulam, outros (como ele) trabalham.
No fundo, quer mostrar aos portugueses que apenas está no Governo para servir o interesse público.
O problema é que este comportamento de Miguel Relvas faz lembrar as pessoas em estado
de coma grave: por muito miserável, desprezível que essa pessoa tivesse sido durante a sua vida,
tentará fazer as pazes e desculpar-se pelos seus erros quando a morte se avizinha.
Mas, depois, uma vez recuperada, volta a ser a mesma pessoa desprezível.
Não tenhamos dúvidas: Miguel Relvas, daqui a uns meses, vai julgar que os portugueses
já esqueceram os seus casos e voltará com aquele
sorriso hipócrita e sinistro de sempre. Porque esse é o verdadeiro Miguel Relvas.
Entretanto, não se admirem que haja!
O problema de tudo isto é que Miguel Relvas de é o responsável pela comunicação do Governo.
Ora, num momento, em que Passos Coelho
e restantes membros têm de explicar as políticas de várias
áreas de governação , Passos vai arrepnder-se - e muito - de o manter.
|
Expresso
Sem comentários:
Enviar um comentário