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Sanne Sannes - Lovers, 1963 |
O homem — ou a mulher — que compreendeu isto é objecto de uma profunda conversão. A conversão à linguagem autêntica do coração e dos sentidos. Ele — ou ela — deixa de abusar da palavra «amor».
A realidade, a honestidade, a liberdade, instalam-se na nossa vida sentimental quando temos a coragem de substituir a palavra «amor» pelas expressões exactas das nossas inclinações e dos nossos apegos. Que revolução do discurso e, logo, dos costumes, e quantas dores evitadas, se substituíssemos esta palavra oca pelos seus sinónimos plenos! Mágoas e cadeias por se ter chamado amor ao desejo. Duas vidas despedaçadas por terem pronunciado esta grande palavra devoradora quando só se tratava dos sentidos e de simpatia. O medo da solidão e a necessidade de ternura, postos na conta do amor. Dar o nome de amor louco a uma loucura de posse. Confundir o amor com o prazer dos hábitos a dois. E, a partir daqui, as tragédias do ciúme.
É verdade que o amor existe. Mas é raro. Tão raro como a santidade ou o génio. Não aviltemos o seu nome.
Quem pode dizer: faço-te dádiva de mim? Quem está suficientemente presente a si, para fazer dádiva de si?
E, enfim, há apenas um amor puro: querer a felicidade de um ser, quando já não se está preso seja ao que for. Não ter medo de viver nem medo de morrer, não sofrer de qualquer privação, bastar-se a si próprio. E juntar-se a alguém na vida desejando o seu bem. Há apenas um amor sereno: quando já nada nem ninguém pode perturbar a minha serenidade.
As falácias do amor e do sexo – Louis Pauwels
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