Poetas algarvios – João de Deus
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Era já noite cerrada,
Diz o filho: “Oh minha mãe,
Debaixo d’aquella arcada
Passava-se a noite bem!”
A cega, que todo o dia
Tinha levado a andar,
A taes palavras do guia
Sentiu-se reanimar.
Mas saltam dois cães de gado,
Que eram como dois leões:
Tinha-os à porta o Morgado
Para o guardar dos ladrões.
Tornam os pobres à estrada,
E aonde haviam de ir dar?
Ao palácio da tapada
Onde el-rei ia caçar.
À ceguinha meia morta
Torna o filho: “Oh minha mãe,
Ali no vão de uma porta
Passava-se a noite bem!”
- Se os cães deixarem… (diz ella,
A triste n’um riso amargo),
Com effeito a sentinela:
- “Quem vem lá?… Passe de largo!”
Então ceguinha e filhinho,
Vendo a sua esperança vã,
Deitaram-se ali no caminho
Até romper a manhã!…
João de Deus.(1830-1896) \ Nascido no ano de 1830 em São Bartolomeu de Messines, Algarve, foi advogado e jornalista. O seu lirismo é simples e terno, com grande profundidade emocional e muitas vezes melancólico. João de Deus foi um dos grandes amigos e admiradores de Antero de Quental.
Em 1893 publicou a colectânea poética Campo de Flores, incluindo-se nesta, duas obras anteriores: Flores do Campo e Folhas Soltas. Dedicou-se também à pedagogia, campo em que publicou em 1876 a Cartilha Maternal, tendo como fim o ensino da leitura às crianças. Faleceu em 1896.
( In Rua da Poesia – Retrato de João de Deus -autor desconhecido (Pastor ? )
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