SOFIA V. MARTINS
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Aqui há dias dei com a minha gata a falhar um salto para chegar ao alto de um armário. Talvez por desatenção ou excesso de confiança, acabou por não conseguir o seu intento.
A reação dela foi virar costas e ir-se embora, sentando-se uns metros mais atrás olhando de relance para o lugar ambicionado. Notei nela uma certa tristeza, não sabendo se esse sentimento era meu ou dela.
Quis ajudá-la. Pegar nela e pô-la no lugar onde tanto queria estar. Tinha vontade de atenuar nela a frustração que devia ter sentido por não conseguir realizar algo natural num felino. Natural na minha gata.
Fiquei a observá-la, enquanto vagueava nos meus pensamentos. Será que estamos a preparar os nossos filhos para lidar com a frustração de uma forma construtiva? Ou será que tentamos poupá-los para que não sofram? A vida está cheia de momentos que não correram como esperávamos. Lugares onde não conseguimos ir. Objetos que não podemos comprar. "Nãos" que não desejamos ouvir. Nem sempre estamos à altura das nossas circunstâncias. E nem sempre essas circunstâncias nos servem.
Poupar outrem de aprender com as suas frustrações é criar neles uma incapacidade de lidar com a vida. Uma inadaptação que só pode levar à depressão. Ou à construção de personalidades egocêntricas e egoístas. Educar para a responsabilidade é fundamental. Não para a culpa.
A necessidade de criar programas como o SuperNanny que tem vastas audiências em vários países do mundo, é sinal de que algo está muito errado na forma como estamos a lidar com a vida e no exemplo que estamos a passar aos nossos filhos. O facto de ter sido suspenso em Portugal e gerado uma tamanha onda de indignação levou-nos a uma reflexão conjunta. Gostei muito de ver todo este movimento que levou ao desfecho. Sinal de que temos consciência e valores que disparam quando a dignidade se vê ameaçada.
Lidar com a frustração torna-nos mais humanos, mais generosos, mais empáticos. Ensinar isso às crianças é fundamental para criarmos seres humanos mais íntegros e competentes. Devemos começar por nós. Como agimos diante de uma contrariedade? Irritamo-nos? Lamentamo-nos? Culpamos alguém? Acredito que este é mesmo o detalhe que pode fazer a diferença na paz com a qual nos queremos ver rodeados. Muito seria evitado se conseguíssemos olhar uns para os outros com mais respeito e compreensão.
E não só com crianças. Em relações amorosas. De amizade. Familiares. A frustração é a melhor forma de evoluir. Afinamos competências. Limamos o que não resultou. E focamo-nos naquilo que realmente queremos. Caímos para nos levantarmos a seguir. Até ao dia em que compreenderemos que foram os nossos trambolhões que nos colocaram no caminho certo.
A certa altura, vejo a gata preparar-se para um novo salto, concentradíssima no seu objetivo, andando de um lado para o outro, criando a sua estratégia cuidadosamente. Estava determinada a não falhar. E nada parecia desvia-la da sua atenção, Nem mesmo uma promessa de colo. Vejo-a então dar um salto lindo. Rodou sobre si mesma e deitou-se. Só então olhou para mim, abrindo a boca com a altivez de um leão. Mostrando-me que não precisava de mim para nada. Que foi ela que falhou, logo era ela que tinha de encontrar a solução. Agradeceu-me porém. Só depois da sua vontade estar devidamente saciada, resolveu vir para o meu colo para finalmente adormecer. Aprendi com ela o verdadeiro significado da palavra "respeito". E descobri que se a vontade for maior do que o desaire, não haverá armário ao cimo do qual não possamos chegar.
Poupar outrem de aprender com as suas frustrações é criar neles uma incapacidade de lidar com a vida. Uma inadaptação que só pode levar à depressão. Ou à construção de personalidades egocêntricas e egoístas. Educar para a responsabilidade é fundamental. Não para a culpa.
A necessidade de criar programas como o SuperNanny que tem vastas audiências em vários países do mundo, é sinal de que algo está muito errado na forma como estamos a lidar com a vida e no exemplo que estamos a passar aos nossos filhos. O facto de ter sido suspenso em Portugal e gerado uma tamanha onda de indignação levou-nos a uma reflexão conjunta. Gostei muito de ver todo este movimento que levou ao desfecho. Sinal de que temos consciência e valores que disparam quando a dignidade se vê ameaçada.
Lidar com a frustração torna-nos mais humanos, mais generosos, mais empáticos. Ensinar isso às crianças é fundamental para criarmos seres humanos mais íntegros e competentes. Devemos começar por nós. Como agimos diante de uma contrariedade? Irritamo-nos? Lamentamo-nos? Culpamos alguém? Acredito que este é mesmo o detalhe que pode fazer a diferença na paz com a qual nos queremos ver rodeados. Muito seria evitado se conseguíssemos olhar uns para os outros com mais respeito e compreensão.
E não só com crianças. Em relações amorosas. De amizade. Familiares. A frustração é a melhor forma de evoluir. Afinamos competências. Limamos o que não resultou. E focamo-nos naquilo que realmente queremos. Caímos para nos levantarmos a seguir. Até ao dia em que compreenderemos que foram os nossos trambolhões que nos colocaram no caminho certo.
A certa altura, vejo a gata preparar-se para um novo salto, concentradíssima no seu objetivo, andando de um lado para o outro, criando a sua estratégia cuidadosamente. Estava determinada a não falhar. E nada parecia desvia-la da sua atenção, Nem mesmo uma promessa de colo. Vejo-a então dar um salto lindo. Rodou sobre si mesma e deitou-se. Só então olhou para mim, abrindo a boca com a altivez de um leão. Mostrando-me que não precisava de mim para nada. Que foi ela que falhou, logo era ela que tinha de encontrar a solução. Agradeceu-me porém. Só depois da sua vontade estar devidamente saciada, resolveu vir para o meu colo para finalmente adormecer. Aprendi com ela o verdadeiro significado da palavra "respeito". E descobri que se a vontade for maior do que o desaire, não haverá armário ao cimo do qual não possamos chegar.
IN "SÁBADO"
29/01/18
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