O corrupio é constante desde que abre a loja, às 10 horas. Os clientes entram e saem - quase nunca de mãos a abanar -, há sempre uma novidade, um produto que chama a atenção, ou uma oportunidade pelo preço. Para fechar, muitas vezes as portas são encostadas porque ainda há gente à procura de mais qualquer coisa.
É uma loja recente na Rua Fernandes Tomás, no Porto, que vende apenas produtos que resultaram de insolvências, nacionais e internacionais, ou mesmo de parcerias que os dois sócios foram estabelecendo com grandes superfícies internacionais.
Escovas de dentes de marca a 35 cêntimos, capacetes de moto a 20 euros e máquinas de lavar roupa a 180 euros são apenas alguns exemplos dos produtos à venda.
Mário Araújo e Pedro Silva são sócios e têm uma leiloeira, através da qual adquirem muitos produtos de insolvências, nacionais e estrangeiras, especialmente da Alemanha, França e Holanda. Têm também parcerias com grandes distribuidores nacionais como fontes de fornecimento dos milhares de produtos que vendem.
“Inicialmente vendíamos em lotes, na sua maioria para países africanos, mas entendemos que os produtos tinham muita qualidade e que fazia sentido vender parte em Portugal”, salientou Pedro Silva, para justificar a abertura da loja, há quase dois meses.
O espaço, na Baixa do Porto, tem de quase tudo à venda: perfumes de marca, roupa, sapatos, têxteis para o lar, pequenos eletrodomésticos e até os grandes. “Mas ainda não é a nossa loja, ou seja, a que queremos. Temos outra no Carvalhido idêntica, mas, em breve, vamos abrir uma nova, essa sim, com todas as condições de área para termos todos os produtos, até mesmo alimentares e medicinais”, frisou Pedro Silva, sem revelar pormenores do futuro investimento.
Para estes dois sócios, o fundamental “é que tudo o que está à venda na loja foi comprado dentro da Europa e tem origem europeia”. E, acrescentam, “as pessoas gostam de vir aqui, porque estão a comprar produtos europeus de boa qualidade a preços muito baixos. Afinal, são os preços que levam as pessoas às lojas dos chineses, e deixam de ir. Aqui, sabe-se que o dinheiro fica no país ou, pelo menos, na Europa, e há a garantia de qualidade”.
Daí admitir: “Pagamos impostos a comprar e, agora, quando vendemos, mas sempre em euros. Não vale a pena estar a dar dinheiro aos de fora, por peças de pouca qualidade e, ainda por cima, esse dinheiro sair todo da Zona Euro, porque nós bem precisamos dele”.
Durante o tempo que durou a reportagem, os consumidores pareciam ter percebido a mensagem: a loja estava cheia, não saiu ninguém de mãos vazias.
Todos os produtos são novos e vendidos com um desconto de 50% face ao desconto que o vendedor inicial estava a fazer. “Os eletrodomésticos estão novos e a funcionar, quando muito podem ter um risco, e, por isso, a loja original não o pôde vender, mas são apenas pequenos defeitos de transporte, como acontece com outros produtos”.
Além disso, “temos uma equipa que avalia todos os eletrodomésticos antes de virem para a loja e podemos por isso garantir o seu bom funcionamento”, adiantam os dois sócios.
Mesmo assim, com preços muito reduzidos, os donos garantem que têm lucro: “Ou não estávamos de portas abertas. O que queremos é dar aos portugueses um Natal muito feliz, porque já temos o material separado para essa época, com muito bons preços”.
Entretanto, vão continuando a comprar recheios de fábricas que entraram em insolvência, de lojas. E muitos desses produtos irão para as prateleiras das lojas, ou então, vendidas em lotes para outros países.
“Vamos continuar a vender a maquinaria pesada, como as retroescavadoras e coisas assim, para os países africanos. Já outros produtos vamos vendê-los nas nossas lojas, garantindo qualidade e a muito baixo preço”.
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