Este fim-de-semana, o feed de notícias de muito boa gente encheu-se de esperança, e não foi só pela vinda do Senhor Jesus.
À cautela, milhares de utilizadores do Facebook copiaram e colaram uma versão de um texto que diz algo como isto: “Mark Zuckerberg anunciou que vai doar 45 mil milhões de dólares em acções do Facebook. O que não vos disseram é que 10% disso será sorteado entre os utilizadores que copiem esta mensagem e façam um post de imediato! Mil pessoas vão receber 4.5 milhões de acções cada como forma de agradecimento por fazerem do Facebook um veículo de conexão tão poderoso.” É uma fraude, obviamente. A única coisa que Zuckerberg dá às pessoas é uma maneira de desperdiçarem tempo a ver vídeos de porquinhos brincalhões e de se indignarem com marcas de sopas, não acções nem dinheiro. Mas milhares e milhares de partilhas depois, percebe-se que não é assim tão óbvio. As tretas no Facebook são como as baratas – vão perdurar muito além do concebível. E hão-de voltar ciclicamente, rindo-se na cara dos exterminadores. As versões variam, há pessoas que adicionam o seu toque pessoal (“que se lixe, nunca se sabe, quem me dera”), mas todas mencionam que não se trata de um embuste. “Vi isto no Good Morning America e nas notícias, por isso vou publicar.” Não, amigos, não viram nada na televisão porque não deu lá nada disso. Cheguei a comentar nas partilhas de alguns amigos, “olha que isso é macacada, o Zuckerberg não vai dar nada a ninguém”, mas as publicações não desapareceram. É que, mais que a vergonha de cair numa treta do Facebook, existe a esperança de que seja verdade e apagar o post eliminaria a possibilidade de vencer o sorteio. Mesmo quando o próprio Facebook desmentiu a publicação no início de Dezembro e depois de vários meios de comunicação terem avisado as pessoas de que não era verdade, as partilhas ressurgiram no Natal. ; Há gente a rir-se dos outros e a partilhar memes – “o Facebook vai-te oferecer um unicórnio se partilhares esta foto”, como há pessoas a criticarem a suposta falta de inteligência da populaça. Mas esta não é uma questão de estupidez. O fenómeno das fraudes no Facebook emula aqueles emails em cadeia que toda a gente encaminhava no final dos anos noventa, sob pena de ter sete anos de azar e levar um coice de um bode à saída do elevador no quinto andar. A fórmula é a mesma: a punição ou a recompensa são enormes, mas o esforço que requerem é mínimo – reencaminhar um email, partilhar um post. Quanto mais amigos partilham, mais verídico parece. O imediato da informação também não deixa muito tempo para andar a verificar fontes, daqui a cinco minutos esse post já passou, o trend já é outro, avancemos para o próximo escândalo das redes sociais. Vai-se assim de treta em treta, de notícia falsa em notícia satírica, colocando tudo no mesmo caldeirão de informações e solicitações. É só espreitar o Centro de Ajuda do Facebook para encontrar um sem número de pessoas que foram levadas a dar informações pessoais porque “venceram a lotaria do Facebook” e variantes disso. Havemos de bater lá com os costados outra vez. O medo de que vendam a nossa privacidade, a esperança de ganhar acções do Facebook, a indignação com os refugiados que deitam comida fora, faz tudo parte do mesmo rolo de partilhas virais que não se detém com verificação de factos. Às vezes é inofensivo, outras um esquema de ‘phishing’ malicioso, outras ajudam a pôr patetas à frente da corrida para as presidenciais nos Estados Unidos (vide Donald Trump). A credulidade pode ser muito traiçoeira. -
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