Portugal. ESTÓRIA SEM EXEMPLO
Fernando Campos
HISTÓRIA EXEMPLAR
Entrei.
– Tire o chapéu – disse o Senhor Director.
Tirei o chapéu.
– Sente-se – determinou o Senhor Director.
Sentei-me.
– O que deseja? – investigou o Senhor Director.
Levantei-me, pus o chapéu e dei duas latadas no Senhor Director.
Saí.
Entrei.
– Tire o chapéu – disse o Senhor Director.
Tirei o chapéu.
– Sente-se – determinou o Senhor Director.
Sentei-me.
– O que deseja? – investigou o Senhor Director.
Levantei-me, pus o chapéu e dei duas latadas no Senhor Director.
Saí.
Mário Henrique Leiria, Contos do gin-tonic.
O Banif foi vendado aos espanhóis do Santander. Como de costume, com enooormes "perdas para o contribuinte".
Até agora ainda ninguém foi preso. Nem o governador do Banco de Portugal, nem a ex-ministra Albuquerque, nem o ex-ministro Gaspar. Nem sequer o seu presidente do conselho de administração, Luís Amado.
A verdade é que esta gente não vai dentro. As suas reputações são inatacáveis, os seus percursos inquestionáveis, as suas posições inexpugnáveis.
Amado é um vistoso economista e consultor de empresas que já foi auditor do Tribunal de Contas(!) e ministro dos Negócios Estrangeiros, e de Estado, e da Defesa e tudo. Já me debrucei sobre a sua figura aqui, a propósito da performance diplomática que fez nas Necessidades.
Amado é muito considerado. Amado é um servidor compulsivo e satisfeito (veja-se a lista, impressionante – que ele exibe com garbo, na sua ficha da wikipédia – de países a quem prestou e que lhe reconheceram serviços ). Por isso o desenhei de libré .
Além disto, Amado é adorado pela imprensa de referência. E tem tão boa imprensa que é chamado amiúde pelas televisões, rádios e jornais de negócios. Questionam-no muito respeitosamente e ouvem-no, muito sérios e circunspectos, discorrer melancólico sobre a temática da problemática, a crise económica, a dívida pública, o sistema bancário, as consolidações, as fusões, as estratégias, as oportunidades, a globalização enfim, até sobre o desígnio nacional e de como afinal, nisto como naquilo, é prudente ser prudente.
E ninguém se ri. Tudo se passa como se Amado fosse mesmo alguém capaz, realmente decente, um sábio, um senador, um estadista.
Não há ninguém que lhe dê duas latadas.
Até agora ainda ninguém foi preso. Nem o governador do Banco de Portugal, nem a ex-ministra Albuquerque, nem o ex-ministro Gaspar. Nem sequer o seu presidente do conselho de administração, Luís Amado.
A verdade é que esta gente não vai dentro. As suas reputações são inatacáveis, os seus percursos inquestionáveis, as suas posições inexpugnáveis.
Amado é um vistoso economista e consultor de empresas que já foi auditor do Tribunal de Contas(!) e ministro dos Negócios Estrangeiros, e de Estado, e da Defesa e tudo. Já me debrucei sobre a sua figura aqui, a propósito da performance diplomática que fez nas Necessidades.
Amado é muito considerado. Amado é um servidor compulsivo e satisfeito (veja-se a lista, impressionante – que ele exibe com garbo, na sua ficha da wikipédia – de países a quem prestou e que lhe reconheceram serviços ). Por isso o desenhei de libré .
Além disto, Amado é adorado pela imprensa de referência. E tem tão boa imprensa que é chamado amiúde pelas televisões, rádios e jornais de negócios. Questionam-no muito respeitosamente e ouvem-no, muito sérios e circunspectos, discorrer melancólico sobre a temática da problemática, a crise económica, a dívida pública, o sistema bancário, as consolidações, as fusões, as estratégias, as oportunidades, a globalização enfim, até sobre o desígnio nacional e de como afinal, nisto como naquilo, é prudente ser prudente.
E ninguém se ri. Tudo se passa como se Amado fosse mesmo alguém capaz, realmente decente, um sábio, um senador, um estadista.
Não há ninguém que lhe dê duas latadas.
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