Direita apontou "falta de estabilidade" à esquerda. Que terá no horizonte OE que pode pôr em causa acordos de PS e parceiros
Diz que a geringonça é coisa mal feita e obra armada no ar. E ontem o governo socialista, o tal em que Paulo Portas viu a caranguejola, voltou a voar soprado por um partido improvável: o PSD de Passos Coelho - que tinha dito que não daria a mão a António Costa e fê-lo por duas vezes numa semana - absteve-se ontem, deixando passar o Orçamento retificativo.
O XXI Governo passou mais um teste (já tinha conseguido viabilizar a contribuição extraordinária de solidariedade com os votos do PSD e do CDS), mas a esquerda à esquerda do PS continua pouco disponível para assumir as despesas de ter chumbado o executivo de Passos e ter apoiado o governo socialista.
No horizonte imediato (mesmo que Costa já tenho superado as provas da sobretaxa, da reposição dos cortes e da CES) avista-se já o Orçamento do Estado para 2016 em que o primeiro-ministro terá de fazer voar a caranguejola sem percalços.
Depois há o plano de estabilidade a entregar em Bruxelas até abril, mas há também dossiês em aberto que podem fazer perigar as "posições conjuntas" assinadas pelo PS com os três partidos de esquerda (BE, PCP e PEV). Há o Novo Banco por resolver e o caso Banif já mostrou que bloquistas e comunistas estão pouco disponíveis para soluções que custem dinheiro aos contribuintes. Há a TAP e as concessões de transportes. Há o défice e há a reestruturação da dívida. E há...
Dúvidas no Orçamento
Para o Orçamento, o BE prometeu encontrar uma "solução estável, duradoura e credível", apesar de Catarina Martins ter repetido que não passava "cheques em branco" para esse Orçamento. E o PCP disponibilizou-se para "avaliar sem reservas mentais os conteúdos do próximo Orçamento", mas Jerónimo de Sousa avisou que este terá de contemplar "medidas urgentes que deixam tantos portugueses - trabalhadores, reformados, pensionistas - na expectativa".
Se tudo não mudou, também tudo não permanece igual. Ontem, no Parlamento, no debate do Orçamento retificativo, o PCP (e também o BE) retificou os seus argumentos: onde antes se lia acusações à "política de direita do PS, PSD e CDS", o deputado Miguel Tiago recordou que foram sociais-democratas e centristas que, "com as suas opções, limitaram duramente as de quem viesse a seguir", quase ilibando os socialistas. Afinal, justificou, "o voto contra do PCP é um voto contra a política que salva bancos enquanto sacrifica pessoas". Na sua declaração de voto, os comunistas insistem que esse voto contra "é a manifestação de profundo desacordo com as opções que o Governo PSD/CDS e o Banco de Portugal assumiram".
"Desapareceu a maioria"
À direita, João Almeida (CDS) preferiu sublinhar a falta apoio do BE, do PCP e do PEV à proposta do Governo. "Ao primeiro problema, desapareceu a maioria. Era suposto ser estável, coerente, não se coloca neste caso a questão de dever ser durável porque não há tempo suficiente para poder avaliar essa premissa", começou por atirar.
"O senhor primeiro-ministro fica a saber que os seus sócios estarão em todas as fotografias das boas notícias, ainda que exijam que sejam fotografias diferentes, mas nunca estarão disponíveis para resolver os problemas graves do país. Isto é exatamente o contrário do que todos vós disseram ao país há menos de um mês", atacou.
Também o líder do grupo parlamentar do PSD, Luís Montenegro, questionaria a bancada socialista e António Costa. "Ao PS e ao primeiro-ministro tem de ser perguntar: onde está a estabilidade governativa prometida?"
Do Governo não se ouviu Costa e, entre os socialistas, João Galamba lembrou que, ontem, nestas matérias sociais-democratas e centristas votaram separados. "O que ficou aqui claro hoje não é que o PS não tem apoio da esquerda, é que se os senhores estivessem no Governo e quisessem resolver este problema não teriam o apoio do CDS." A frase foi recebida com risos mas também transpareceu incómodo.
À esquerda, permanecem muitas pontas soltas, mas é uma quadratura do círculo a que António Costa parece habituado. O líder socialista foi ministro dos Assuntos Parlamentares no único governo sem maioria que terminou a legislatura, o primeiro de António Guterres (1995-1999); Costa chegou à Câmara de Lisboa, em 2007, com apenas 29,9%, número que fez subir para 44,01%, já com o apoio dos movimentos de Helena Roseta e de José Sá Fernandes, que tinham sido seus adversários, e que culminaram nos 50,91% de 2013.
O hábil negociador que é Costa, como reconhecem também adversários, pode soçobrar perante as exigências de Bruxelas, com metas orçamentais de que BE e PCP desconfiam muito, e que podem esvaziar o ar do XXI Governo. A não ser que Costa dê novo significado à geringonça: de que é coisa que funciona.
1 comentário:
Porque se apelida de socialista o Governo de António Costa se Mário Soares há já muito tempo,meteu o socialismo na gaveta?!Trata-se afinal do Governo do PS que,quando muito,é um Partido Social Democrata e que acata a Política Liberal DITADA por Bruxelas e é apoiante da Horda mercenária da NATO e de suas guerras de destruição e rapina.
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