Poema de Miguel Torga
AMEAÇA DE MORTE
Não basta ter-me dado nos meus versos:
pedem a carne e a pele, os inimigos.
Os olhos, dois postigos
de olhar o mundo sem ninguém me ver,
querem-nos entaipados;
e quebrados
os braços, que eram ramos a crescer.
Luto, digo que não, peço socorro,
mas saíu-me ao caminho uma alcateia.
Lobos da liberdade alheia
que me seguem os passos hora a hora,
sem que eu possa sequer adivinhar,
na paisagem do medo tumular,
qual deles salta primeiro e me devora.
Poema II - José Vultos Sequeira
AS VOZES
o senhor administrador dentro do carro
olha de sobrolho franzido
a manifestação em frente à sede da empresa
a polícia está lá
para evitar que a gentalha se aproxime
e o porteiro
perfilado abre-lhe a porta
o senhor administrador
esfrega as mãos
sorri à secretária
e pergunta
se as cartas para os seus pares
foram enviadas e se as reserva das suites
estão garantidas
«custa um milhão» - esclarece ela solícita -
não há problema - diz ele - são personalidades políticos
jornalistas empresários nossos amigos
mas aquela gente à porta ó minha querida
já disse alguma coisa ao ministro
ligue-lhe e passe-me o telefone»
pouco depois correrias gritos tiros
e alguns dias mais tarde o
ministro - mas meu caro não sei o que lhe hei-de dizer
eles não desistem
e na manhá levantada reerguem-se as vozes uma
canção um protesto a vida
o senhor administrador dentro do carro
olha de sobrolho franzido
a manifestação em frente à sede da empresa
a polícia está lá
para evitar que a gentalha se aproxime
e o porteiro
perfilado abre-lhe a porta
o senhor administrador
esfrega as mãos
sorri à secretária
e pergunta
se as cartas para os seus pares
foram enviadas e se as reserva das suites
estão garantidas
«custa um milhão» - esclarece ela solícita -
não há problema - diz ele - são personalidades políticos
jornalistas empresários nossos amigos
mas aquela gente à porta ó minha querida
já disse alguma coisa ao ministro
ligue-lhe e passe-me o telefone»
pouco depois correrias gritos tiros
e alguns dias mais tarde o
ministro - mas meu caro não sei o que lhe hei-de dizer
eles não desistem
e na manhá levantada reerguem-se as vozes uma
canção um protesto a vida
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