por Amato
Uma vez mais, o Bloco de Esquerda veio ao o parlamento com um voto de condenação, desta feita baseado num rumor sem qualquer tipo de fundamento sobre um suposto campo de concentração para homossexuais na Chechénia. A própria fonte em que se baseia não confirma a existência de um tal campo. Mas o Bloco de Esquerda é mesmo assim, o que se há de fazer? É a sua natureza: é um partido de votos de condenação, é um partido de tomadas de posição sobretudo sobre questões mediáticas e capazes de potenciar a sua visibilidade.
Tomar posição é positivo, bem entendido, mas quando se o faz à pressa, na vertigem do mediatismo, apenas se demonstra falta de maturidade e falta de bom senso. Mas o Bloco de Esquerda é isto mesmo, é um partido que vive destas questiúnculas porque não se afirma ideologicamente no que realmente importa. Ora é a favor da moeda única, ora é contra; ora Sá Fernandes é um grande homem para a câmara de Lisboa, ora não é; ora o SYRIZA é um modelo de partido de esquerda moderna, ora não é. E mais: o BE está-se completamente a marimbar para as consequências diplomáticas de um voto de protesto parlamentar infundado e ofensivo a países estrangeiros soberanos. Este comportamento é mais próprio de garotagem que quer aparecer a todo o custo do que propriamente de pessoas de responsabilidade.
Mas a verdade é que isto tão pouco interessa. Com este voto, o BE marcou posição mediática. Isto é que era importante. A sociedade dos likes e dos shares adora estas coisas, vive para isto, emociona-se e revolta-se com estas palhaçadas fabricadas. Os outros partidos, os do arco do poder, sempre conscientes da importância do ficar bem na fotografia, sobretudo se se trata de homossexualidade — uma matéria sobre a qual uma grande parte da sociedade se efervesce facilmente —, também votaram a favor do tal voto de protesto sobre um suposto campo de concentração de cuja existência ninguém confirma. Incrivelmente, o único partido que disse “Eh pá, mas agora estamos a votar rumores da internet no parlamento?” e teve a correção de se abster desta fantochada, o PCP, veio afinal a ser enxovalhado de tudo pela sua ação na praça pública mediática. O DN, por exemplo, diz, em gordas, Parlamento - PCP abstém-se na "condenação da perseguição" de LGBT na Chechénia. Repare-se que o voto de condenação proposto pelo BE não visava a perseguição de homossexuais mas sim a existência de um campo de concentração, facto tão confirmado quanto a existência de uma fábrica de brinquedos operada pelo Pai Natal e seus elfos na Lapónia. Todavia, quem lê frases deste género fica, na verdade, com uma péssima imagem do Partido Comunista Português e isto é o que ultimamente mais conta.
Uma vez mais, o PCP caiu que nem um patinho na armadilha montada. É daquelas armadilhas, todavia, que não há como fugir. Quem é minimamente sério não tem outro remédio se não cair nelas, de frente, de pé. O problema não é o PCP. O problema é esta sociedade de garotos e de canalhada que vive somente em frente ao facebook.
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