O fotógrafo Alfredo Cunha vai processar o CDS-PP por ter utilizado e adulterado o retrato de Salgueiro Maia sem ter pedido autorização. “E ainda inverteram, recortaram, abandalharam a fotografia toda. Estou furioso”, diz ao Observador.
O cartaz em questão surgiu terça-feira na página de Facebook da Juventude Popular. Para assinalar o 25 de Abril, a JP recortou a foto que Alfredo Cunha tirou a Salgueiro Maia no dia da Revolução, em 1974, colocou um filtro azul e escreveu: “25 de Abril. A Liberdade é de quem a dá aos outros! … e Não dos que se afirmam donos dela (sic).”
Alfredo Cunha reagiu também no Facebook. No seu perfil, acusa os autores do cartaz de “abusadores e ladrões”. Ao Observador, lembra que há mais de 20 anos que não vende a fotografia de Salgueiro Maia, embora autorize a sua utilização gratuita a quase toda a gente que lhe pede para partilhar a imagem, desde que os créditos ao fotógrafo sejam assinalados.
“Mas nunca autorizaria para o CDS. Primeiro, porque politicamente não tenho nada a ver com o CDS, nem gosto. Depois, porque não quero que o retrato sirva para propaganda política. Ainda por cima com aquele paleio!”, lamenta, referindo-se às mensagens colocadas sobre a imagem.
Alfredo Cunha vai avançar para a Justiça, mesmo que a JP decida agora retirar a imagem. “O crime está cometido, o mal esta feito”, conclui. “Ainda por cima vêm pregar moral sobre a liberdade? Vou para tribunal, para eles aprenderem a respeitar a liberdade dos outros. E muito menos aceito que a fotografia seja recortada e virada ao contrário, é uma deturpação da verdade.”
Juventude Popular não retira imagem. “Não podemos aderir a esta política de exclusão”
Contactado pelo Observador, Francisco Rodrigues dos Santos, presidente da JP, começa por lamentar ter tido conhecimento do descontentamento do autor da fotografia “pelos fóruns públicos” e não por parte do autor. “Não nos chegou de forma oficial qualquer contestação”, frisa, acrescentando que a JP está disponível, caso seja solicitado, para adicionar os créditos do autor da imagem. Mas recusa apagá-la.
Sem fazer referência à falta do pedido de autorização, e informado de que o autor não dará autorização para a utilização da imagem para fins políticos, Francisco Rodrigues dos Santos endurece a sua posição. “Isso desqualifica mais o autor do que a Juventude Popular. Porque quer excluir as novas gerações de centro direita do acesso ao direito democrático”, sublinha.
Questionado sobre os direitos de autor da imagem, o líder dos jovens centristas lembra que a intenção foi “formular uma reflexão de Abril” e lembrar “o saudoso capitão Salgueiro Maia, num gesto pacifico e singelo”. Quanto à foto, considera que é “património imaterial do país“, e recusa apagar o cartaz mesmo tendo de enfrentar um processo em tribunal, por acreditar que negar a utilização da imagem põe em causa “a participação nas comemorações de um dia que é da população e do povo português”.
Isso soa-nos à negação dos valores históricos da revolução e aproxima-se aos tempos da ditadura e do PREC. Nós celebramos a efeméride ao estilo do que se faz pelo país inteiro, usando uma foto utilizada muitas vezes sem haver referencia ao seu autor, porque se enquadra nas comemorações de Abril.”
Sem comentários:
Enviar um comentário