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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A gula dos ricos pela carne dos pobres é insaciável.

  • Jorge Messias

Bispos e banqueiros são velhos companheiros
Tem interesse e ajuda a compreender o que no mundo actualmente se passa, recordar em traços gerais as afinidades que sempre ligaram as hierarquias religiosas aos altos postos e ao aparelho do capitalismo político e financeiro mundial. Necessariamente numa abordagem muito superficial e só para nossa informação.
A expressão igreja começou a ser usada na antiga Grécia vários séculos antes de Cristo. Designava conselhos eleitos entre os cidadãos com a finalidade de gerirem a polis ou cidade, conceito que depois evoluiu para a noção mais sofisticada de cidade-estado ou seja, cidade que era cabeça política de um território mais vasto.
Nessa fase tão recuada não havia grandes religiões organizadas. A igreja – uma  estrutura de base popular – ligava-se no entanto aos mitos anteriores ao conhecimento científico e que sobreviveram depois no inconsciente colectivo como milagres. Atribuíam origens fantasiosas aos fenómenos naturais.
Estas funções básicas da igreja vieram a tomar outros sentidos. Convém reter que o termo Eklesia é muito anterior à noção de capitalismo. A Eklesia data do século V AC. A Igreja só viria a estabelecer-se em Roma cerca de mil anos depois. Finalmente, o sistema capitalista só a partir dos séculos XIV e XV se foi definindo, já era então o Papa autoridade suprema à qual obedeciam reis e imperadores.
Os primeiros papas, através da intriga diplomática, das alianças dinásticas e das famosas guerras da «Reconquista Cristã», tinham acumulado tesouros imensos, de certo modo herdados das rapinas do império romano. Porém, no Ocidente, entre as populações, o dinheiro era escasso ou inexistente e grande parte das terras permanecia ao abandono. Não havia suficientes navios mercantes e de pesca, nem linhas marítimas seguras para o escoamento da produção. Alternativas possíveis, nessa altura, implicariam enormes investimentos.
Só a partir dos finais do século XVI começaram a surgir no mercado poderosas empresas lideradas pelos mais ricos: a Coroa, a Igreja, a Nobreza e uma certa burguesia emergente – que impuseram a transição da economia para um sistema de capitalismo monopolista: «todo o dinheiro se deve transformar em capital de empresas monopolistas», era a palavra de ordem.
 O alvo-tipo dos monopólios foi alcançada à custa do esmagamento da propriedade individual, pelas grandes empresas constituídas por acções. Toda a economia tradicional reagiu negativamente: as políticas comerciais dos monopólios orientavam-se para as colónias de onde vinham os diamantes, o oiro, as especiarias, o algodão, etc. – as matérias-primas que se transaccionavam com mais altas margens de lucro. Os campos ficavam cada vez mais desertos, aumentava o desemprego, a corrupção e a fuga dos trabalhadores para as colónias. A escravatura era prática corrente.
Os lucros financeiros acumulavam-se nos cofres dos grupos dominantes, nomeadamente os da Coroa e da Igreja. Não chegavam ao povo. Aliás, só a Igreja dispunha de uma rede social à escala nacional, centralizada e decalcada nas formas de organização das velhas eklesias. Uma marca que ainda persiste no projecto de «sociedade civil» fortemente apoiado pelo Patriarcado e pelas IPSS confessionais.
Agravava-se a dívida pública e a situação geral dos estados abeirava-se da bancarrota. Os pobres pagavam a crise. Os impostos subiam, o Estado lançava novas derramas e contraía dívidas sobre dívidas mas não reconhecia a gravidade da situação. «Resolveremos a crise… Nada de bancarrota, nada de subida dos impostos, nada de empréstimos externos...», clamava Turgot, homem do Vaticano e ministro de França. Ontem como hoje. As crises do capitalismo são insolúveis. Residem nas próprias contradições do sistema.
Quanto à Igreja, envolta nos seus dogmas, permanecia calada, tentando situar-se à margem da situação e sair com lucro da crise social. Os bispos eram, simultaneamente, políticos da direita radical, homens de negócios e banqueiros. A hierarquia tinha consciência do seu poder financeiro e da sua imensa influência em matérias-chaves como as do Ensino, da Assistência Social e do nebuloso e lucrativo «combate à pobreza» que orientava no plano da Caridade e da Resignação.
Curioso é este paralelo entre o que se passou há trezentos anos e o que se vai processando no nosso tempo. O namoro entre a Igreja e o poder continua. Não enfraqueceu a atracção pelo dinheiro que está na base do convívio fraterno entre bispos e banqueiros. A gula dos ricos pela carne dos pobres é insaciável.
Não esqueçamos, porém, que o capitalismo de Estado setecentista culminou, em França, com uma Revolução universal.
 


 

 

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