É tão lindo envelhecer em portugal
Querem-nos com mais saúde, dizem-nos os hipócritas. Querem-nos a viver mais e melhor, dizem-nos os beneméritos não se sabe bem de quem sem ser deles mesmos. Que comamos legumes, fruta, farináceos. Que evitemos as gorduras, as carnes vermelhas, o álcool, o café. E, acima de tudo, nada de tabaco, nem uma passa, um pequeno prazer, nada de nada, que está cheio de impostos e de nicotina.
Entrementes, aos 50, 50 e tal, atiram-nos para o desemprego, por imprestáveis, velhos, desadequados ao mundo moderno e aos seus altos valores, alto rendimento, complexíssima tecnologia, exigentíssima especialização, pouca ou nenhuma experiência e sobretudo, ah! e sobretudo, salários a rondar a miséria, um terço, um quarto do que ganhávamos e toma lá que já vais com sorte em arranjar trabalho.
Entrementes, não nos deixam reformar, sem penalização, antes dos 66, daqui a uns tempos 67, 68 ou 69 que nunca foi um bonito número. Se chegarmos à idade da reforma, se tivermos essa sorte ou azar, atiram-nos com um par de notas que mal chegam para a comida, os medicamentos, a renda de casa, a ajuda que costumávamos dar ao Antoninho, à Belinha, ao Manel, que estão desempregados, desesperados. Não contentes com isso, cortam-nos a pensão cada vez mais. Cada vez mais sujeitos ao livre-arbítrio, à vontade de meia dúzia de irresponsáveis, imorais, amorais, os que querem que vivamos mais e com mais saúde. Não nos dizem é com quê. Para quê.
Quatro almas
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