A revista custava 50 centavos (metade de um escudo, a moeda da época) e os cinco mil exemplares de tiragem, considerável para a altura, esgotaram-se rapidamente – o mesmo aconteceu nos números seguintes – e a publicação continuou a crescer de semana para semana. Passou por vários ciclos editoriais e formatos, e conheceu mesmo uma periodicidade bissemanal (saía à quarta-feira e ao sábado) no período de 1942 a 1948. A cisão, neste último ano, entre os seus dois fundadores e principais animadores, António Cardoso Lopes Júnior (conhecido também por Tiotónio) e Raúl Correia, marcou o início do declínio da publicação, que saiu à rua pela última vez em 1953.
As razões deste curioso sucesso editorial, num pequeno país atrasado e com elevada taxa de analfabetismo, e numa época de grande asfixia política e cultural, continuam por explicar totalmente. José Ruy, autor português de bandas desenhadas que descobriu “O Mosquito” aos cinco anos de idade – e viria a colaborar nele intensamente anos mais tarde –, sintetiza com rara felicidade a reacção maravilhada de uma geração ao aparecimento da revista, num texto publicado na obra “História da BD Publicada em Portugal - 1ª parte” (Edições Época d'Ouro):
“Esse jornalinho funcionou para mim como uma janela aberta ao mundo e à fantasia; equivalia ao que hoje representa o ecrã da televisão.”
Para o historiador e crítico António Dias de Deus, “O Mosquito” é “o alfa e o ómega do jornalismo infantil português, do gosto juvenil, da aventura tornada imagem, da figura elaborando o gesto e a fala”, escreveu no mesmo livro. E o fascínio que provocou de forma duradoura tem a ver, segundo o mesmo autor, com a circunstância de aquela publicação ter sido “o espelho fiel dos jovens que o liam, enquanto estes começavam a entrever a realidade através do fluxo feérico da banda desenhada”.
Construções e novelas
Até 1941, a revista publicou “comics” ingleses com textos didascálicos (por baixo das imagens) e séries espanholas de humor (assinadas por Arnal, Moreno e outros). António Cardoso Lopes assinava as diatribes de Zé Pacóvio e Grilinho. Em 1942, no auge da guerra, “O Mosquito” reduz o formato para metade devido à falta de papel e é no decurso do ano seguinte que Eduardo Teixeira Coelho passa a colaborar na revista com capas, ilustrações e construções de armar.
As novelas de José Padinha, Raúl Correia, Lúcio Cardador e Orlando Marques surgem ao lado das bandas desenhadas inglesas e espanholas. É nesta fase que autores clássicos do país vizinho como Jesús Blasco, Emilio Freixas e Ángel Puigmiquel chegam ao conhecimento do público. O português Vítor Péon revela-se igualmente nesta fase que vai até 1948, considerado por Dias de Deus o período áureo de “O Mosquito”.
Em 1946 a revista regressa ao formato inicial, publicando as grandes criações de Teixeira Coelho. No ano seguinte, José Ruy começa a trabalhar na publicação a desenhar e litografar as cores. Entretanto, José Garcês e Jayme Cortez assinarão em “O Mosquito” as suas primeiras histórias significativas.
Em 1948 dá-se a separação entre Raúl Correia e Cardoso Lopes. José Ruy publicará ali, finalmente, a sua primeira e única história, “O Reino Proibido”.
As duas últimas fases da publicação caracterizaram-se pelo aparecimento de dois fortes concorrentes, “O Mundo de Aventuras” e “O Cavaleiro Andante”. Apesar das dificuldades financeiras, ainda ali são apresentadas séries inglesas de qualidade como Garth (de Steve Dowling) e Buck Ryan (de Jack Monk), Terry e os Piratas (George Wunder), e autores franceses da craveira de Gigi, Marijac, Paul Gillon e outros. Mas os tempos já não são os mesmos. A revista saiu pela última vez em 24 de Fevereiro de 1953. Era “O Mosquito” nº 1412.
As razões deste curioso sucesso editorial, num pequeno país atrasado e com elevada taxa de analfabetismo, e numa época de grande asfixia política e cultural, continuam por explicar totalmente. José Ruy, autor português de bandas desenhadas que descobriu “O Mosquito” aos cinco anos de idade – e viria a colaborar nele intensamente anos mais tarde –, sintetiza com rara felicidade a reacção maravilhada de uma geração ao aparecimento da revista, num texto publicado na obra “História da BD Publicada em Portugal - 1ª parte” (Edições Época d'Ouro):
“Esse jornalinho funcionou para mim como uma janela aberta ao mundo e à fantasia; equivalia ao que hoje representa o ecrã da televisão.”
Para o historiador e crítico António Dias de Deus, “O Mosquito” é “o alfa e o ómega do jornalismo infantil português, do gosto juvenil, da aventura tornada imagem, da figura elaborando o gesto e a fala”, escreveu no mesmo livro. E o fascínio que provocou de forma duradoura tem a ver, segundo o mesmo autor, com a circunstância de aquela publicação ter sido “o espelho fiel dos jovens que o liam, enquanto estes começavam a entrever a realidade através do fluxo feérico da banda desenhada”.
Construções e novelas
Até 1941, a revista publicou “comics” ingleses com textos didascálicos (por baixo das imagens) e séries espanholas de humor (assinadas por Arnal, Moreno e outros). António Cardoso Lopes assinava as diatribes de Zé Pacóvio e Grilinho. Em 1942, no auge da guerra, “O Mosquito” reduz o formato para metade devido à falta de papel e é no decurso do ano seguinte que Eduardo Teixeira Coelho passa a colaborar na revista com capas, ilustrações e construções de armar.
As novelas de José Padinha, Raúl Correia, Lúcio Cardador e Orlando Marques surgem ao lado das bandas desenhadas inglesas e espanholas. É nesta fase que autores clássicos do país vizinho como Jesús Blasco, Emilio Freixas e Ángel Puigmiquel chegam ao conhecimento do público. O português Vítor Péon revela-se igualmente nesta fase que vai até 1948, considerado por Dias de Deus o período áureo de “O Mosquito”.
Em 1946 a revista regressa ao formato inicial, publicando as grandes criações de Teixeira Coelho. No ano seguinte, José Ruy começa a trabalhar na publicação a desenhar e litografar as cores. Entretanto, José Garcês e Jayme Cortez assinarão em “O Mosquito” as suas primeiras histórias significativas.
Em 1948 dá-se a separação entre Raúl Correia e Cardoso Lopes. José Ruy publicará ali, finalmente, a sua primeira e única história, “O Reino Proibido”.
As duas últimas fases da publicação caracterizaram-se pelo aparecimento de dois fortes concorrentes, “O Mundo de Aventuras” e “O Cavaleiro Andante”. Apesar das dificuldades financeiras, ainda ali são apresentadas séries inglesas de qualidade como Garth (de Steve Dowling) e Buck Ryan (de Jack Monk), Terry e os Piratas (George Wunder), e autores franceses da craveira de Gigi, Marijac, Paul Gillon e outros. Mas os tempos já não são os mesmos. A revista saiu pela última vez em 24 de Fevereiro de 1953. Era “O Mosquito” nº 1412.
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