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sábado, 2 de maio de 2015

Fotógrafo registra 'inferno' de imigrantes nos mares há 20 anos

Fotógrafo registra 'inferno' de imigrantes nos mares há 20 anos

Juan Medina/Reuters
Há duas décadas que o fotógrafo argentino Juan Medina segue imigrantes que tentam chegar à Europa. Medina foi o ganhador do Prêmio World Press pela imagem acima, feita na costa das Ilhas Canárias em 2004.
Milhares de imigrantes continuam arriscando suas vidas em travessias no Atlântico ou no Mediterrâneo. Abaixo, Medina relata sua experiência à BBC:
Aviso: As imagens abaixo podem chocar algumas pessoas.
Comecei a fazer fotos de imigrantes pois vivia em Fuerteventura, nas Ilhas Canárias, trabalhando como fotógrafo para um jornal local e eles (os imigrantes) vinham de toda a África Subsaariana.
O que aconteceu naquele dia em 2004 não foi diferente do que já estava acontecendo havia anos e do que vai continuar acontecendo.
A viagem pelo mar para a Europa é feita por muitas pessoas que buscam uma vida melhor. A qualquer momento, os barcos podem virar, eles podem ficar sem combustível, o motor pode quebrar e os passageiros ficam expostos ao frio.
Naquele dia, os imigrantes estavam em um barco pequeno, cheio de gente. Eles tinham embarcado havia horas.
Quando chegaram às Ilhas Canárias, havia uma patrulha da Guarda Civil esperando para detê-los. Os imigrantes começaram a embarcar em um cargueiro maior, mas quando todos se dirigiram para um lado, o barco virou.
Vinte e nove deles foram resgatados. Nove morreram. As pessoas à bordo eram todos homens. Muitos vieram do Mali, alguns da Costa do Marfim e outros de Gana.
Juan Medina/Reuters
Juan Medina/Reuters
Juan Medina/Reuters
Juan Medina/Reuters
Monumentos para os imigrantes mortos no cemitério de Antígua, em Fuerteventura
Os sobreviventes passaram pelo processo usual - são mantidos em centros de detenção para estrangeiros durante 40 dias, então são colocados em um voo de volta para seus países de origem ou levados para o continente, para a Espanha.
Fotografei dois dos homens que estavam naquele barco, Isa e Ibrahim, quando eles estavam sendo retirados do mar. Eles foram para a Espanha.
Os dois deixaram bem claro o que estava acontecendo no Mali. Eles vieram de famílias grandes. No caso de Isa, por exemplo, eles dependiam da lavoura. Não há muito trabalho. Eles não tinham oportunidades. Ele estavam vivendo uma situação de necessidade extrema.
Fui até a casa deles no Mali e fui recebido de braços abertos pelas famílias, exatamente o oposto de como imigrantes são recebidos na Espanha. As famílias me contaram suas histórias então entendi a razão de seus filhos arriscarem suas vidas.
O que chamou minha atenção foram as condições terríveis que eles deixaram para trás. Eles arriscaram morrer no mar mas enfrentavam pressões ainda maiores tentando sobreviver no Mali. Eles fizeram a viagem pois não tinham outra saída, não era porque buscavam aventuras.
Juan Medina/Reuters
Os imigrantes em um esconderijo nas montanhas perto do enclave espanhol de Ceuta, no norte da África
Juan Medina/Reuters
Um acampamento clandestino no norte do Marrocos, perto de outro enclave espanho, Melila
Juan Medina/Reuters
Mohamed, do Togo, trata dos ferimentos sofridos enquanto tentava nadar do Marrocos para a Espanha
Juan Medina/Reuters
Algumas pessoas que sobrevivem à jornada se juntam à nossa sociedade, na medida em que nossa sociedade permite: frequentemente de uma forma precária e instável, sem documentos, sem direitos.
Isto está acontecendo na porta de nossa casa. Na verdade eles são nossos vizinhos, poderiam estar vivendo no andar acima de vocês, vendendo comida ou indo à escola com seus filhos. Se as pessoas sentem que não são diretamente afetadas por esta situação, elas estão fazendo vista grossa.
Acho que minhas fotos são documentos, estas coisas estão acontecendo dia após dia.
E as pessoas estão morrendo hoje. É incomum passar um mês sem uma tragédia. Mesmo depois de 20 anos seguindo esta história, as pessoas ainda estão se afogando toda semana e não vejo mudanças. Se houve alguma mudança, foi para pior.
Cada tragédia ou naufrágio fica maior e mais doloroso, pois mais pessoas perdem as vidas.
Há mais pressão da polícia, mais do que nunca, nas fronteiras da Europa, mas as pessoas ainda estão morrendo.
Juan Medina/Reuters
Um imigrante exausto chega à praia de Fuerteventura

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