Quando ontem soube que Dominique Strauss--Kahn, director-geral do FMI, tinha sido preso em Nova Iorque (a palavra é "detido", mas nem só de rigor jurídico vive a língua, alimenta-a também o desejo) acusado de crimes de violação e sequestro, a minha primeira reacção foi de irracional euforia: afinal havia Justiça - assim, com maiúscula e tudo - no Mundo!
Imaginei Strauss-Kahn acusado de violação dos direitos dos numerosos povos do Mundo que o FMI tem "resgatado", o último dos quais o português, e do sequestro de outras tantas economias nacionais para uso e abuso dos famosos mercados, "petit nom" da banca internacional e dos grandes fundos de especulação financeira.
E veio-me à memória o recente "memorando" da "troika" de FMI & Cª, que PS, PSD e CDS/PP disputam agora a honra de aplicar ao que sobrou das pensões, prestações sociais e salários após os sucessivos PEC aprovados pelos mesmos partidos. Ainda por cima as notícias diziam que Strauss-Kahn é reincidente em crimes semelhantes e não pude evitar lembrar-me dos estragos feitos pelo FMI (só para falar de exemplos recentes) na Grécia e na Irlanda.
Afinal a coisa era literal e Strauss-Kahn terá "apenas" sequestrado e tentado violar uma empregada do hotel onde estava hospedado. Compreende-se como deve ser o Mundo visto de dentro da sua cabeça: se põe e dispõe de povos inteiros porque não há-de dispor como bem entender de uma empregada de hotel?JN
Manuel António Pina
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